Título: Lula diz a Virgílio que não vai mais comparar seu governo ao de FHC
Autor: Fabíola Salvador, Rosa Costa, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2006, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu no sábado à noite ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que vai deixar de fazer comparações entre as realizações de seu governo e do governo do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Na mesma conversa, como publicou ontem o Estado com exclusividade, Lula revelou a Virgílio que convidará FHC para conversar sobre o seu segundo governo.

Ao voltar de Três Lagoas (MS), onde participou do velório do senador Ramez Tebet, para Brasília, anteontem à noite, Lula convidou o tucano e outros senadores do PMDB para acompanhá-lo no Aerolula. Durante a viagem, o presidente disse que pretende chamar os partidos de oposição para discutir uma agenda que dê condições de crescimento ao País.

Quando chegou a Brasília, Lula chamou Virgílio à parte e lhe revelou que quer conversar com os ex-presidentes Itamar Franco e FHC, além do governador reeleito Aécio Neves (MG) e o governador eleito José Serra (SP). Consultado pelo Estado, Serra disse desconhecer o propósito de Lula: 'Não sei de nenhum encontro', afirmou.

Segundo Virgílio revelou ontem, Lula disse que esses encontros poderão ocorrer no primeiro trimestre de 2007, provavelmente no começo do ano. 'Foi uma conversa muito boa, nada pesada', garantiu o senador tucano, um dos críticos mais ferrenhos do governo Lula no Congresso Nacional.

Além de conversarem durante a viagem, Lula e Virgílio tiveram um encontro reservado logo após o desembarque na Base Aérea de Brasília. O senador admitiu ao presidente que 'bateu muito mais do que apanhou' durante a campanha eleitoral, mas avaliou que o fim da tensão eleitoral abre espaço para o diálogo entre governo e oposição. 'Não temos por que recusar um convite para discutir uma agenda de Brasil', disse o senador, sinalizando que a oposição vai aceitar o convite do presidente para conversar.

Segundo Virgílio, a oposição deu 'uma exagerada' durante a campanha. 'O presidente até brincou comigo. Ele disse que na campanha tinha falado pouquinho de mim, comparando com o muito que eu falei dele', contou o senador. Apesar da tentativa explícita de aproximação, o senador sinalizou ao presidente que a oposição não vai baixar totalmente a guarda. 'Essas coisas não se medem por quantidade, mas por intensidade', disse ao se referir aos ataques do presidente.

Durante o vôo de sábado, nas conversas com os senadores a quem deu carona (como o presidente do Senado, Renan Calheiros), o presidente disse que quer 'deixar uma marca' da sua administração. Afirmou que quer governar da melhor maneira possível nos próximos quatro anos, com apoio de pessoas que possam apresentar propostas que tenham como objetivo 'destravar o Brasil'.

Ontem Virgílio explicou a expressão de Lula: 'Destravar o Brasil é fazer reformas, é apresentar soluções, por exemplo, para os problemas de licença ambiental', disse o senador, que defendeu também os investimentos privados e pediu ao presidente a valorização das agências reguladoras. Segundo o senador, Lula disse que quer deixar uma marca porque 'daqui para frente não tem mais pretensões', referindo-se às próximas eleições.

Em relação às mudanças no ministério, Lula reafirmou aos senadores o que tem dito nos últimos dias: não vai fazer 'um ministério às pressas'. Deu a entender que não vai se curvar às cobranças do PT, que exige mais cargos no primeiro escalão do governo. Apesar de demonstrar que não tem pressa para escolher o nome dos novos ministros, o presidente voltou a elogiar o empresário Jorge Gerdau, um dos nomes comentados para assumir um ministério no segundo mandato. Lula classificou o empresário gaúcho como 'um vitorioso'.

O senador disse ainda a Lula que ele devia sua reeleição mais ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do que ao Bolsa-Família, pois a estabilidade econômica manteve a inflação sob controle. O presidente concordou e sinalizou que não vai afrouxar as regras da economia. 'O Banco Central tem de cuidar da moeda', disse Lula, segundo Virgílio.

Não é só Lula que está amenizando o tom com o PSDB. Na semana passada, o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, pediu ao ex-ministro José Gregori que estimulasse o governador José Serra a criar uma secretaria afim em São Paulo. Serra não aceitou.