Título: Uma Clínica de fertilidade para pacientes com HIV
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2006, Vida&, p. A18

A Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, em Santo André, vai inaugurar hoje o Centro de Reprodução Assistida em Situações Especiais (Crase), laboratório especializado em pacientes com HIV e infecções virais crônicas, como hepatite.

¿A idéia é atender pelo menos 200 pessoas por ano, principalmente homens¿, aposta Caio Parente Barbosa, chefe do setor de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina do ABC. Com um número bem menor de atendimentos, o Crase já se tornaria o maior centro de reprodução para esse tipo de paciente, que precisa de um atendimento específico.

A técnica usada é chamada de lavagem seminal, que elimina os espermatozóides contaminados. O sêmen é colocado num tubo de ensaio cheio de uma substância gelatinosa. O material vai para uma centrífuga. Os espermatozóides sadios nadam para o fundo do tubo. Os doentes, que incluem os infectados, ficam na superfície.

¿O vírus `imobiliza¿ o espermatozóide¿, explica Eduardo Motta, diretor da Clínica Huntington Medicina Reprodutiva, que atende cerca de três pacientes com HIV por mês. ¿A finalidade da lavagem é separar os espermatozóides móveis dos imóveis.¿

Da ejaculação até a inseminação, tudo dura cerca de duas horas. Para se submeter à lavagem o paciente tem que ter carga viral - volume de vírus específicos presentes no corpo - baixa.

O comerciante M.L., de 35 anos, tem um bebê de um ano. Ele, infectado, a mulher e o bebê não. M.L. descobriu que tinha aids cinco meses antes de casar, em 1999. ¿Sempre falamos em ter filhos. Aquilo foi uma bomba. Não desistimos de casar, mas o sonho de ter filhos foi para o espaço¿, lembra.

Em 2000, eles conheceram a técnica. Depois de três tentativas, a mulher engravidou na Clínica Fertility, uma das primeiras a trazer a lavagem seminal para o País.

No Centro de Pesquisa em Reprodução Humana Roger Abdelmassih, o número de pacientes com HIV saltou nos últimos anos. ¿Até 2000, tínhamos um ou dois casos por ano¿, conta Abdelmassih. ¿Hoje, são em média dois por mês.¿

PRÉ-NATAL

Se a mulher é infectada, as chances de contaminar o feto são de cerca de 20%. Um pré-natal bem feito pode diminuir a porcentagem. O controle médico durante a gestação inclui, por exemplo, o uso de anti-retrovirais. O parto não pode ser demorado.

¿O vírus pode ser transmitido no parto por secreções da vagina e até pela pele do bebê, que tem micromacerações¿, diz Simone Tenore, infectologista do DST-AIDS de São Paulo. A transmissão pode ocorrer também pela placenta ou durante a amamentação.

A técnica não está incluída na tabela de pagamento do Sistema Único de Saúde. Em nota, o Ministério da Saúde explicou que ¿os procedimentos não estão incluídos por uma questão orçamentária¿.