Título: Mercado imobiliário vive melhor momento desde o Plano Real
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2006, Economia, p. B1

Nunca a construção civil imobiliária viveu um momento tão favorável como agora. Construtoras, incorporadoras, lojas de materiais de construção e até agências de publicidade especializadas são unânimes em afirmar que estão batendo recordes de vendas. O consumidor, por sua vez, beneficiado pelo crédito farto e fácil, está indo às compras e trocando o aluguel pelo financiamento de longo prazo com parcelas fixas.

Números do Secovi de São Paulo, o sindicato da habitação, atestam o bom momento. De janeiro a setembro, 11,2% dos imóveis lançados na cidade foram vendidos, contra 8,2% no mesmo período de 2005.

A previsão do vice-presidente de Incorporação do Secovi-SP, João Crestana, é fechar o ano com velocidade de vendas de 12%, a maior taxa desde 1994, quando o indicador foi de 11,7%. Naquele ano, marcado pelo início do Plano Real, as vendas foram impulsionadas por financiamentos de prazos longos feitos pelas construtoras.

De janeiro a setembro, foram vendidas 20.048 unidades, 21,8% mais que no mesmo período de 2005, segundo o Secovi-SP. O valor total dos negócios somou R$ 6,11 bilhões, quase um R$ 1 bilhão a mais que no ano passado.

A construtora e incorporadora Company, por exemplo, atingiu até o terceiro trimestre de 2006 o maior nível de vendas da história da empresa dos últimos 25 anos, diz o gerente de Incorporação, Fábio Romano.

'Houve um crescimento extraordinário nos negócios', diz o executivo. Entre julho e setembro, a receita líquida atingiu R$ 96,2 milhões, crescimento de 231% ante o mesmo período de 2005. Segundo Romano, a facilidade de financiamento provocou uma drástica mudança no mercado de locação, que perdeu fôlego diante da facilidade de comprar a casa própria.

De olho nesse mercado, a empresa, até então especializada em alto padrão, começou a produzir imóveis para a classe média. Até agora, já está acertado para 2007 o lançamento de quatro empreendimentos, com 3 e 4 dormitórios , cuja unidade custa até R$ 400 mil. 'Existe excesso de produto de alto padrão.'

Outro indicador que confirma o entusiasmo do setor é o volume de publicidade. Maurício Eugênio, que dirige uma agência de publicidade especializada em imóveis que leva o seu sobrenome, deve fechar este ano cuidando da publicidade de cerca de 150 lançamentos no País. 'É um volume recorde em 18 anos da agência', diz o diretor. Até o fim de dezembro, a agência ainda vai fazer publicidade de 30 lançamentos. 'Não vamos ter férias.'

A maior parte dos lançamentos deste ano (70%) é de apartamentos de 100 a 200 metros quadrados, voltados para a classe média alta, com preço entre R$ 250 mil e R$ 400 mil. 'Para 2007, as construtoras estão preparando lançamentos mais em conta, que custam cerca de R$ 90 mil', diz Eugênio.

BANCOS

Com a estabilidade da economia, financiamentos de longo prazo e a perspectiva de redução dos juros básicos e, portanto, dos ganhos de tesouraria das instituições financeiras, o apetite dos bancos pelo mercado imobiliário cresceu.

O Bradesco, por exemplo, deve superar neste ano a meta inicial de destinar R$ 2 bilhões para o crédito imobiliário, segundo o diretor de Empréstimos e Financiamentos, Alexandre Gluher. De janeiro a setembro, já foram emprestados R$ 1,6 bilhão para consumidores e empresas. No ano passado foram R$ 700 milhões.

Há menos de um mês, o Bradesco lançou o crédito imobiliário prefixado com taxa de 13,5% ao ano para financiamento em 10 anos de imóveis de até R$ 350 mil. O financiamento com prestações fixas, sem a TR, foi uma possibilidade aberta no último conjunto de medidas do governo para incentivar o setor com recursos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

Desde abril de 2005, o Santander Banespa oferece financiamento com recursos do próprio banco por 20 anos com parcelas fixas para imóveis a partir de R$ 40 mil. Segundo o superintendente de Crédito Imobiliário, José Manoel Alvarez Lopez, hoje os financiamentos prefixados já respondem pela metade do volume de empréstimos. O restante é pós-fixado.

O Santander deve fechar este ano com R$ 2 bilhões de empréstimos imobiliários a empresas e consumidores, ante R$ 640 milhões em 2005. 'Para 2007, essa cifra será maior ainda', prevê.N