Título: Rússia faz acordo para entrar na OMC
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2006, Economia, p. B5

A Rússia e os Estados Unidos assinaram um acordo bilateral no domingo para a entrada russa na Organização Mundial de Comércio (OMC), removendo um último grande obstáculo para o ingresso do país que há 13 anos pleiteava uma vaga na entidade internacional.

O acordo pode ser visto como um importante voto de confiança na Rússia, última grande economia mundial ainda fora do grupo da organização formada por 149 membros.

A inclusão da Rússia também representa um marco na relação entre os dois países, que tem sido caracterizada por desacordos sobre o controverso programa nuclear do Irã e pelo medo em haver um retrocesso na liberdade democrática sob a gestão do presidente russo Vladimir Putin.

O acordo foi assinado pelo ministro russo da Economia, German Gref, e pela representante comercial dos EUA, Susan Schwab, durante reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec na sigla em inglês), realizada em Hanói.

A assinatura foi planejada para acontecer antes de um encontro do presidente Putin, com seu colega norte-americano, George W. Bush. Ambos participaram da reunião da Apec.

'Sem dúvida, esse acordo é um marco muito significativo na completa integração da Rússia na economia global', disse Gref a jornalistas depois da cerimônia de assinatura do acordo.

A Rússia será beneficiada por um 'significativo aumento' no comércio mundial depois ingressar na OMC, disse Schwab.

Grupos comerciais dos EUA comemoraram o acordo. Autoridades disseram que o pacto remove antigos obstáculos russos às exportações de carne bovina, suína e de aves dos Estados Unidos ao país e exige que Moscou reduza tarifas de uma longa lista de produtos agrícolas e manufaturados. Aviões, computadores e máquinas estão incluídos nessa lista.

A Rússia também concordou em abrir seu setor de serviços e a combater a pirataria e a falsificação de produtos estrangeiros. Filmes, músicas e softwares piratas custaram às companhias russas algo perto de US$ 1,8 bilhão em 2005.

APOIO DE BUSH

Gref disse a jornalistas no sábado que contatos pessoais entre Putin e Bush desempenharam papel importante na velocidade do acordo, o último e mais difícil de uma série de 56 acertos similares assinados pela Rússia nos últimos seis anos.

'O próximo estágio ( negociações multilaterais) normalmente dura de seis a oito meses', disse Gref. 'Queremos finalizar o processo todo em meados de 2007', disse o ministro russo.

Depois do encontro , Bush disse que o acordo será 'bom para os Estados Unidos e bom para a Rússia'.

O acordo, porém, pode enfrentar um duro obstáculo no novo Congresso eleito recentemente nos EUA. Os democratas, que passarão a liderar a casa a partir de janeiro, são menos receptivos ao livre comércio que os republicanos. Apesar disso, os parlamentares norte-americanos não têm poder para impedir o acesso da Rússia à OMC.

Schwab disse que garantir relações comerciais permanentes e normais com a Rússia será importante para os investidores norte-americanos que fazem suas apostas no país.

'A integração completa da Rússia à economia global é do interesse da Rússia e também dos EUA', disse a representante comercial norte-americana a jornalistas.