Título: Inconsistência está sempre no programa do adversário
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2006, Nacional, p. A8

Quando o assunto é programa de governo, os formuladores conhecem as propostas dos adversários quase tão bem quanto as suas próprias. 'O PT não tem um programa de governo, tem um roteiro genérico de boas intenções a respeito de tudo. Eles transitam pelos temas nacionais de forma superficial. É uma técnica que eles têm o direito de adotar. Propõem o mesmo, a continuidade do que eles vêm não-fazendo', ironiza o coordenador do programa do tucano Geraldo Alckmin, João Carlos Meirelles.

O PT não deixa por menos. 'Eu acho o programa do Alckmin uma mistura de desenvolvimentismo conservador com neoliberalismo. Se reduzir os dois programas a crescimento, realmente se parecem. Mas eles trabalham com a idéia de que o motor é o setor privado e nós achamos que é uma combinação do setor privado com o setor estatal. O Brasil precisa de mais Estado, de mais ação estatal e não de menos, como eles pensam', define Walter Pomar, vice-presidente do partido e integrante da Comissão de Programa de Governo.

O comando da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma análise detalhada do programa de Alckmin. Os comentários foram distribuídos em documentos internos. 'O programa opositor de segurança é absolutamente genérico, quando não simples plágio de nossas ações', diz um desses documentos reservados.

Cita que Alckmin promete a criação do Ministério da Segurança Pública, sem, no entanto, especificar as atribuições. 'O Programa Nacional de Segurança Pública (proposto por Alckmin) é o nosso Sistema Único de Segurança Pública', diz a análise.

Outros documentos apontam a falta de políticas específicas, como para pessoas portadoras de deficiência. 'Geraldo Alckmin ignora a existência dos pescadores e aqüicultores', diz também um desses textos.

Para Meirelles, o grande mérito do programa de Alckmin foi o fato de que condensou idéias do PSDB, do PFL e do PPS. 'É resultado de uma novidade democrática, feita por três partidos diferentes que convergiram nesta eleição. Buscamos um denominador comum', diz o coordenador tucano. As diferenças entre os partidos explica em parte algumas propostas mais superficiais do programa. 'Procuramos identificar convergências. Eventuais pontos de divergência ficam para depois de amanhã', brinca Meirelles. 'Sem nenhuma arrogância, o que mostramos no programa é que nós sabemos fazer.'

Pomar tem uma explicação para a falta de metas numéricas do programa petista. 'Este não é um plano de ação, é um programa mais qualitativo que quantitativo', justifica, lembrando a campanha passada. 'Em 2002, Lula afirmou que o Brasil precisava de 10 milhões de empregos. Isso foi tratado na imprensa como promessa. Agora, temos quase 7 milhões de empregos gerados e é apresentado como negativo, como meta não cumprida. Não quisemos criar armadilhas para nós mesmos.'

Além dos grandes temas nacionais, o programa petista tem capítulos específicos para juventude, povos indígenas, pessoas com deficiência, idosos, mulheres, segurança alimentar, 'GLBT '(gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais), igualdade racial, aqüicultura e pesca, cidades, regiões metropolitanas e participação democrática. Já o programa tucano reservou espaços exclusivos para micro, pequenas e médias empresas, agricultura familiar, agronegócio, saneamento básico, habitação, transporte coletivo urbano, Região Nordeste, Região Norte, inovação tecnológica e combate à corrupção.