Título: Generalidades nivelam planos de Lula e Alckmin
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2006, Nacional, p. A8

Ambos falam em queda dos juros e aumento de salários, mas não arriscam porcentuais

Para diagnósticos opostos, remédios semelhantes em doses diferentes. Os programas de governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva e do tucano Geraldo Alckmin são iguais na prioridade ao crescimento econômico com inclusão social e à geração de emprego e renda. Divergem, no entanto, nos raros momentos em que detalham os caminhos para alcançar o desenvolvimento. E se aproximam mais uma vez ao tratarem muitos temas de forma superficial e genérica.

A política econômica e o modelo de gestão pública são os temas em que os programas do presidente e de seu adversário mais se distanciam. Alckmin fala em cortes de gastos e redução de impostos. Aponta a necessidade de, ao longo do mandato, cortar despesas correntes, incluindo juros, em 4,4% do PIB. Em seu programa, Lula não toca no assunto cortes e fala em programas 'seletivos' de desoneração tributária, ou seja, medidas pontuais para aliviar alguns setores - que não diz quais são.

A única meta numérica de todo o programa do PT, dividido em 38 temas, refere-se à economia: 'Perseguir uma taxa de investimento acima dos 25%, para garantir um crescimento superior ao atual.' Atualmente, a taxa de investimentos públicos e privados no País é de 20%. Escaldado pelas promessas não cumpridas de 2002, Lula não arrisca mais nenhum compromisso quantitativo.

Ambos falam em queda dos juros, mas não arriscam um porcentual. Citam aumentos reais de salários, mas não se comprometem com índices. Na discussão sobre o papel do Estado, Alckmin promete redução no número de ministérios - há 34 no governo atual. Mas não diz quantas nem quais pastas serão extintas nem como serão realocadas na nova estrutura. O tucano também combate o 'aparelhamento das instâncias estatais pelos partidos governistas', mas não toca na palavra-chave: demissão.

'É ilusão pensar que vai haver uma discussão mais profunda sobre programas de governo, especialmente quando se está numa campanha em que o eleitor não tem muito conhecimento sobre temas como economia e Previdência e avalia mais expectativas cumpridas ou frustradas', diz o cientista político Fábio Wanderley Reis, da UFMG.

Para ele, 'idealmente', não há motivo para o programa de governo de Lula não apresentar metas concretas. 'Não importa se o candidato tenta se eleger pela primeira ou segunda vez no momento de elaborar o programa de governo. Mas, realisticamente, o governo que busca a reeleição dirá que o eleitor já sabe o que deve esperar. Sou favorável à reeleição por isso: o eleitor vai premiar ou punir o que recebeu', avalia Reis.

SEM POLÊMICAS

O pesquisador diz que os candidatos não se aprofundam nas propostas porque não querem criar grandes polêmicas, mas também porque muitas vezes não têm a fórmula para executar o que prometem. 'Por isso os programas são genéricos', afirma.

Reis cita o rebuliço criado na semana passada na candidatura tucana como tudo o que os candidatos querem evitar. O pivô foi o economista Yoshiaki Nakano, que pregou cortes de gastos da ordem de 3,4% do PIB. 'Independentemente da seriedade com que deva ser tratado, e provavelmente Nakano tem razão em boa dose, esse fato atrapalha a campanha de Alckmin', comenta o professor.

O programa tucano, dividido em 32 capítulos, apresenta metas numéricas quando promete investimentos de R$ 37 bilhões em recuperação de estradas e obras de transportes, ao se comprometer com aumento da oferta de energia e da produção de petróleo e ao anunciar a distribuição de 60 milhões de livros infanto-juvenis nas escolas públicas.

Um dos maiores gargalos da economia, a Previdência Social também separa os dois programas de governo, ambos superficiais na análise e nas propostas. Alckmin prega uma reforma previdenciária, mas, nas 'linhas mestras', toca apenas no que é positivo, como preservação de direitos adquiridos e 'regras novas, justas, equilibradas'. Quais são essas regras, não se sabe. O programa de Lula não toca em reforma. Prefere temas como combate às fraudes, previdência complementar, agilidade no atendimento aos segurados.