Título: Grupo de ministros articula renúnica coletiva para facilitar reforma
Autor: Vera Rosa, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Nacional, p. A4

Um grupo de ministros da coordenação de governo articula um movimento de demissão coletiva, no início de dezembro, com o único objetivo de deixar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à vontade para compor a equipe do segundo mandato. Na prática, trata-se de um gesto apenas simbólico para que Lula não se sinta constrangido ao promover as mudanças que julga necessárias nessa fase de montagem do novo ministério.

'Estamos conversando sobre isso há algum tempo. Queremos facilitar a vida do presidente, que precisa de alianças muito mais amplas com vários partidos', disse um ministro ao Estado. 'Existe uma idéia em debate para que todos ponham o cargo à disposição.'

A proposta começou a ser discutida reservadamente no gabinete da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mas logo ganhou resistências. Hoje, ninguém sabe se será tocado em frente. Pode até ser que fique apenas no campo das intenções.

'A renúncia coletiva não é necessária', afirmou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, ao ser questionado sobre o tema, antes de tirar licença não remunerada de dez dias e embarcar para Buenos Aires. 'Afinal, todos os cargos são do presidente Lula. Nenhum ministro deve fazer cogitações sobre se fica ou sai do governo porque isso pode parecer ambição pessoal ou pressão.'

Não é a primeira vez que a idéia da renúncia coletiva vem à tona. Em meados de 2005, o então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo (Secom), Luiz Gushiken, propôs que todos os colegas entregassem os cargos para Lula, para facilitar uma reforma ministerial. O então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi um dos que rejeitaram a idéia.

No governo de coalizão, Lula vai abrir espaço para o PMDB na Esplanada dos Ministérios, mas quer negociar 'institucionalmente' com o partido, e não com suas alas. Atualmente, o PMDB comanda três ministérios (Saúde, Comunicações e Minas e Energia). No segundo governo Lula, deverá ter de quatro a seis cadeiras, apesar do discurso público de que prefere mais 'qualidade' nos cargos e uma discussão em torno de políticas públicas.

A entrada da senadora Roseana Sarney (MA), derrotada na eleição para o governo do Maranhão, é dada como praticamente certa. Roseana saiu do PFL e deverá se filiar ao PMDB, mas não agora, para não causar problemas. A orientação do Palácio do Planalto é para que ela aguarde mais um pouco antes de assinar a ficha de filiação.

Roseana deverá entrar na equipe na cota pessoal de Lula, num gesto de agradecimento ao apoio do senador José Sarney (PMDB-AP). Atualmente, ela é lembrada para ocupar Comunicações. O senador Hélio Costa (PMDB-MG), titular da pasta, perdeu o apoio da bancada do partido.

Lula tem pedido reiteradamente ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para permanecer na equipe pelo menos por mais alguns meses, no próximo mandato. Até agora, porém, ele está disposto a entregar o cargo. Já avisou ao presidente que precisa se dedicar mais à família. Se Thomaz Bastos sair, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nélson Jobim, que é do PMDB, está cotado para a vaga.

Na outra ponta, a cúpula do PT tem feito pressões para manter os cargos que ocupa, apesar da retórica oficial de que é preciso deixar Lula 'à vontade'. O PT ocupa 15 dos 34 ministérios e não admite perder postos considerados estratégicos, como Desenvolvimento Agrário e Planejamento.