Título: Vedoin de novo acusa Abel de elo com máfia
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Nacional, p. A8

Ao mesmo tempo, empresário isenta 4 deputados de ligação com máfia

Sônia Filgueiras

Em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, o empresário Luiz Antônio Vedoin, confirmou o envolvimento do empresário Abel Pereira na liberação de emendas de parlamentares para compra de ambulâncias no período em que Barjas Negri, hoje prefeito de Piracicaba, era o ministro da Saúde. Vedoin, no entanto, não revelou o nome dos parlamentares beneficiados - disse não se recordar - e afirmou que nunca esteve pessoalmente com o ex-ministro.

Vedoin também negou ter oferecido um dossiê contra o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), ao contrário do que disse Abel Pereira em depoimento à Polícia Federal. Abel informou que o dono da Planam lhe teria oferecido documentos que poderiam comprometer o senador. Ontem, Vedoin reafirmou ter acertado com o empresário de Piracicaba o pagamento de 6,5% de comissão em troca da liberação de emendas. 'Acredito que o Abel tinha relação com o Barjas Negri', disse.

De maneira geral, o empresário confirmou as denúncias feitas em depoimentos anteriores, mas, na avaliação do presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), isentou quatro parlamentares incluídos pela CPI dos Sanguessugas no rol dos suspeitos de envolvimento com as fraudes na compra de ambulâncias: Wellington Fagundes (PL-MT), Wellington Roberto (PL-PB), Pedro Henry (PP-MT) e Laura Carneiro (PFL-RJ). Dos quatro, apenas Laura Carneiro não conseguiu se reeleger e dois deles são do mesmo Estado do empresário, Mato Grosso.

'Nunca paguei um centavo à deputada', disse ele em relação a Laura Carneiro. 'Não o conheço', declarou, sobre Wellington Roberto, em resposta a uma única pergunta do relator Nelson Marquezelli (PTB-SP), que deixou o plenário em seguida dizendo-se satisfeito. No caso de Pedro Henry, Vedoin desqualifica um importante documento existente no processo: a planilha contábil da Planam, na qual constam diversos supostos pagamentos em favor do parlamentar. 'Muitos dos valores dessa planilha não foram pagos', disse ele. O dono da Planam disse ter dado a Henry uma ajuda de campanha (um carro, que o deputado teria usado pouco e devolvido). Ele afirmou ainda não ter tido contato pessoal ou pago propinas diretamente ao deputado e sim a um terceiro, que afirmava estar negociando em nome do parlamentar.

DETALHES

Embora tenha inocentado quatro deputados, Vedoin confirmou o pagamento de propina a mais de duas dezenas de parlamentares, sempre em resposta às perguntas dos relatores. E deu detalhes. No caso do deputado Cabo Júlio (PL-MG), disse ter participado de reunião numa chácara em Belo Horizonte com prefeitos que receberiam dinheiro das emendas. Júlio apresentou defesa afirmando que os valores eram doação de campanha. 'De minha parte, era pagamento de comissão', afirmou Vedoin. Também confirmou ter emitido cheques - sem fundos - em favor da campanha da deputada Celsita Pinheiro (PFL-MT) na expectativa de negócios futuros.

'O depoimento foi muito útil. Vedoin confirmou o pagamento de propinas e trouxe novas informações e vários relatores já me informaram que ficaram satisfeitos', avaliou Izar. 'Confirmou tudo', disse o deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), um dos relatores.

Em relação à gestão do petista Humberto Costa no Ministério da Saúde, Vedoin reafirmou que negociava com José Aírton Cirilo, petista eleito deputado federal pelo Ceará, e repetiu, igualmente, que nunca esteve pessoalmente com Costa. Mas se recusou a entrar em detalhes.

Foi o primeiro depoimento de Vedoin na Câmara. Seu relato servirá para embasar os 67 processos de cassação em tramitação no Conselho de Ética. Izar se diz confiante de que todos serão votados ainda nesta legislatura, cujos trabalhos se encerram em 22 de dezembro. Na prática, porém, avalia-se que dificilmente haverá tempo hábil para isso. Dos 67 sanguessugas, apenas 5 foram reeleitos e seus processos poderão ser reabertos. Nos demais casos, não havendo prazo, os processos serão arquivados.