Título: Mercadante deve depor apenas no fim do inquérito
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Nacional, p. A9

Homem de confiança do petista está sob suspeita

A Polícia Federal deverá ouvir o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) apenas no fim do inquérito que investiga o dossiê Vedoin. O prazo para conclusão da investigação vai até 26 de novembro.

Candidato derrotado ao governo de São Paulo nas últimas eleições, Mercadante vai depor porque Hamilton Lacerda, seu ex-coordenador de campanha, está sob suspeita de envolvimento na trama de R$ 1,75 milhão.

Para a PF, a compra e a divulgação do dossiê poderiam favorecer Mercadante na disputa com seu maior rival, José Serra, do PSDB, que venceu a corrida ao Palácio dos Bandeirantes. 'Lacerda era homem de confiança da campanha para governador de Mercadante', anotou o delegado Diógenes Curado Filho, em relatório de dez páginas que encaminhou à Justiça Federal no último dia 19.

Curado preside o inquérito sobre o dossiê montado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe do esquema das ambulâncias superfaturadas. 'O dossiê, com certeza, visava a alterar o rumo das pesquisas do eleitorado paulista, fazendo uma relação do candidato José Serra com a máfia dos sanguessugas.' O dossiê é formado por seis fotografias, uma fita de vídeo e um DVD com imagens de Serra, então ministro da Saúde (governo FHC), entregando ambulâncias em Mato Grosso.

Os Vedoin pagaram R$ 80 pelo DVD. Venderiam o material por R$ 1,16 milhão e US$ 248,8 mil. A bolada foi amealhada por dirigentes petistas e apreendida pela PF no Hotel Ibis Congonhas em 15 de setembro. A PF está convencida de que o ex-assessor de Mercadante é o 'homem da mala' - ele teria levado o dinheiro ao hotel, onde estavam hospedados Gedimar Passos e Valdebran Padilha, negociadores do dossiê.

Lacerda não negou ter ido ao hotel, mas disse que levava material da campanha de Lula. Mas Ricardo Berzoini, ex-coordenador da campanha à reeleição ao Planalto e presidente licenciado do PT, afirmou que isso 'não seria função do coordenador da campanha paulista'.

'Está cada vez mais difícil acreditar na versão de que teria ido ao Ibis Congonhas para levar uma bolsa cheia de boletos da campanha presidencial', destacou o delegado Curado. Ao juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal de Cuiabá, o policial pediu autorização para uma série de providências, inclusive, 'no devido tempo', ouvir Mercadante. O senador já se colocou à disposição da PF para prestar depoimento