Título: Na CPI, Barjas nega vínculo com empresário
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Nacional, p. A9

Sessão serviu de palco para troca de acusações entre petistas e tucanos

Eugênia Lopes

O depoimento do ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB), atual prefeito de Piracicaba, transformou ontem a CPI dos Sanguessugas em um palco de disputa política entre governistas, principalmente parlamentares do PT, e tucanos. Primeiro ex-ministro a depor na comissão, Barjas negou conhecer integrantes da família Vedoin, proprietária da Planam - empresa que centralizava o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras.

O tucano também garantiu não ter beneficiado o empresário Abel Pereira no período em que esteve à frente da Saúde, entre fevereiro e dezembro de 2002. Segundo Luiz Antônio Vedoin, Abel recebia entre 3% e 6,5% de propina por intermediar convênios na pasta.

'Não havia qualquer intermediação no Ministério da Saúde. O que havia na minha época era uma relação estreita com o Congresso Nacional', afirmou Barjas, que negou veracidade na denúncia de Vedoin sobre o pagamento de propina a Abel. 'Articularam um dossiê e pagaram R$ 1,75 milhão. Se ele (Vedoin) vendeu um dossiê, está pagando a fatura e dando essas declarações. Ele fez essa acusação de propina e vai ter de provar isso', disse. O dono da Planam não chegou a receber a quantia que pagaria o material contra tucanos.

Segundo ele, o empresário de Piracicaba esteve uma vez no ministério, com um prefeito de Mato Grosso, para pedir agilidade na liberação de verba para o município. Barjas disse que se sentiu 'desconfortável' ao tomar conhecimento mais tarde, pela imprensa, de que foi uma das empresas de Abel que se beneficiaram do convênio no Estado.

No depoimento, o tucano admitiu ainda que recebeu R$ 15 mil de contribuição de uma das empresas de Abel para sua campanha à Prefeitura de Piracicaba. Mas refutou as acusações de que privilegie suas empresas em obras municipais. 'Na gestão de meu antecessor, que foi o petista José Machado, 33% das obras da prefeitura estavam a cargo de empresas de Abel. Na minha gestão são 36% das obras.' Por fim, admitiu que a máfia dos sanguessugas começou na gestão passada, do tucano Fernando Henrique Cardoso. 'Mas o esquema não foi patrocinado pelo governo anterior', ressaltou.

Nas quatro horas da sessão, governistas e tucanos dedicaram-se a bater boca e a trocar acusações de envolvimento com o esquema das ambulâncias superfaturadas. O clima esquentou logo no início, quando a deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), designada relatora, criticou a ausência do ex-ministro José Serra, que está nos Estados Unidos e não deu nenhuma explicação à CPI pela ausência. Ela insistiu em perguntas sobre a participação das empresas de Abel em obras em Piracicaba. Irritado, Barjas negou-se a responder, alegando que o tema não tinha relação com os sanguessugas.

Outro momento tenso foi quando o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) apresentou requerimento para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse convidado a explicar a participação de aliados na compra do dossiê Vedoin. Houve discussão entre o tucano e o petista Eduardo Valverde (RO). O mesmo requerimento, que foi arquivado, também previa o convite ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato derrotado ao governo de São Paulo. Em represália, Valverde propôs uma acareação entre Abel, Vedoin e Barjas. Hoje, a CPI ouve o depoimento de dois ex-ministros da Saúde do governo Lula: o do petista Humberto Costa, que perdeu a eleição em Pernambuco, e o do deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG).