Título: Corrupção pesou mais que Iraque
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Internacional, p. A12

Pesquisa de boca-de-urna surpreende: guerra teve menos importância do que se previa na definição do voto

Patrícia Campos Mello

Enquanto os números da votação legislativa chegavam a conta-gotas, as primeiras pesquisas de boca-de-urna da rede de TV CNN sobre a eleição de ontem trouxeram uma grande surpresa: o Iraque não é a preocupação número 1 do eleitorado. Segundo a sondagem, o fator decisivo para o voto nesta eleição foi a corrupção (42%), seguida pelo terrorismo (40%). Para 39%, a economia é que os levou a decidir o voto. Apenas em quarto lugar, com 37%, vem o Iraque.

A preocupação com a corrupção pode significar um duro golpe para os republicanos - o partido que está no poder e é provavelmente o alvo da crítica. Após a divulgação do resultado da pesquisa, os casos mais citados pelos analistas eram o do lobbista Jack Abramoff - ligado aos republicanos e acusado de envolvimento em contratos fraudulentos para a construção de cassinos em terras indígenas - e o do deputado Mark Foley, que renunciou em setembro após a revelação de que enviou mensagens pornográficas a menores que trabalhavam na Câmara dos Representantes. Durante a campanha, vários casos de corrupção que envolviam autoridades locais também ganharam destaque.

Por outro lado, a forte preocupação com o terrorismo é uma boa notícia para os conservadores. A luta contra o terror foi a bandeira que os elegeu em 2002 e 2004, e em tese poderia beneficiá-los mais uma vez. Outra surpresa da pesquisa foi a constatação de que os grandes temas nacionais dominaram a preocupação dos eleitores, quando se previa que as questões locais motivariam os votos.

Embalada principalmente pelas dificuldades da administração de George W. Bush no Iraque, a oposição democrata tinha grande possibilidade de retomar o controle da Câmara dos Representantes e uma boa chance de recuperar a maioria no Senado.

Além de Ohio e Indiana, as atenções estavam voltadas para as acirradas disputas por vagas na Câmara em distritos do Kentucky, Connecticut e Pensilvânia.

Em nível nacional, 57% dos eleitores disseram que desaprovam a guerra no Iraque, enquanto apenas 47% a aprovam. Com relação ao trabalho de Bush, 58% dos eleitores disseram desaprovar o desempenho do presidente, contra apenas 41% que se disseram satisfeitos. Questionados sobre se aprovavam o trabalho do Congresso, 62% disseram que não e 36%, que sim.

Estão em disputa todas as 435 cadeiras da Câmara. Os democratas necessitavam obter 15 cadeiras a mais para conquistar a maioria. No Senado, onde estavam em disputa 33 das 100 cadeiras, os democratas necessitavam manter as atuais e conquistar mais 6. Também estavam em jogo o governo de 36 dos 50 Estados.

Bush votou ontem pela manhã num quartel do Corpo de Bombeiros perto de sua fazenda em Crawford, no Texas. Ao lado da primeira-dama, Laura Bush, ele convocou os americanos, de qualquer filiação partidária, a votar.

Do lado democrata, uma das principais estrelas do partido, a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton, votou acompanhada do ex-presidente Bill Clinton em Chappaqua, Nova York.