Título: Anfal matou pelo menos 50 mil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Internacional, p. A16

A campanha militar conhecida como Anfal, realizada entre 1987 e 1988, foi a primeira em que um país utilizou armas químicas contra sua própria população. Os ataques das forças do ditador iraquiano Saddam Hussein (que governou de 1979 a 2003) mataram cerca de 180 mil pessoas da etnia curda, segundo a promotoria. A organização Human Rights Watch aponta que houve entre 50 mil e 100 mil mortes nos ataques, qualificados pela entidade americana como 'genocídio'. As operações, comandadas por Ali Hasan al-Majid, um primo de Saddam, incluíram ofensivas por terra, bombardeios aéreos, destruição de moradias e o lançamento de gás mostarda e sarin sobre áreas habitadas pelos curdos no norte do Iraque. O uso desses componentes para matar rendeu ao primo de Saddam o apelido de 'Ali Químico'. Os combates eram, segundo o governo de Saddam, contra a milícia curda Peshmerga. Na ofensiva, 2 mil vilas foram destruídas e centenas de milhares de civis curdos tiveram de abandonar suas casas para fugir dos ataques.

O governo de Saddam, que em vários momentos havia se referido aos curdos como uma ameaça à nação, tentou 'arabizar' as áreas de maioria curda, enviando migrantes árabes para a região, que, além de rica em petróleo, é estratégica, por ser uma área de fronteira. Outro fator na campanha foi a ligação entre os curdos e o Irã. Bagdá acusava essa etnia de apoiar Teerã na guerra Irã-Iraque (1980-88).