Título: Para analistas, juro menor não basta para o País crescer
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Economia & Negócios, p. B3

A avaliação é que falta investir em infra-estrutura e controlar gastos governamentais, entre outros fatores

Marcelo Rehder

A queda da produção industrial em setembro desencadeou uma nova onda de revisões para baixo das estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País para este ano, tanto entre analistas como empresários. Ontem mesmo, a consultoria MB Associados reduziu de 3% para 2,7% a projeção para a expansão da economia em 2006.

'Esse ajuste é apenas uma confirmação do que já esperávamos e é fruto de uma economia que depende cada vez mais de estímulos que não sejam apenas a redução da taxa de juros', afirma o economista Sergio Vale, da MB Associados.

O economista cita que o aumento de renda este ano, por conta do programa Bolsa-Família, da elevação do salário mínimo e do reajuste do funcionalismo, não foi suficiente para estimular o crescimento mais vigoroso do PIB.

De acordo com o IBGE, a produção da indústria caiu 1,4% em setembro ante o mês anterior, descontando-se as variações que normalmente ocorrem entre os dois períodos. Em relação a setembro de 2005, houve expansão de 1,3%

'A gente está se acostumando à mediocridade', diz o empresário Roberto Nicolau Jeha, presidente da Indústria de Papel e Papelão São Roberto. Para Jeha, o setor de embalagens de papelão ondulado, considerado o termômetro da economia, não deverá crescer este ano mais que 3% sobre uma base considerada 'medíocre'. Em 2005, a expansão do setor foi de apenas 2,1%. 'Se o consumo de papelão crescer 3%, a expansão do PIB deverá ser menor, entre 2,5% e 3%', estima.

Diante do fraco desempenho do setor em setembro, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também vai reduzir a previsão de crescimento da produção, que era de 3,5%. 'Agora, está mais próximo de 3% que de 3,5%', diz Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi.

'Se a produção industrial crescer mais próxima de 3%, a taxa do PIB pode ficar em, torno de 2,5%'. Pereira observa que o comportamento do setor pode ser explicado em boa medida pelos efeitos do real valorizado.

A MCM Consultores prefere esperar o resultado do PIB do terceiro trimestre antes de rever a estimativa para o ano. A empresa manteve a taxa de 2,9%, mas com tendência de baixa. 'Todos os indicadores mostram que a demanda vem crescendo, mas boa parte está sendo atendida pela importações', diz o economista Alexandre Teixeira, MCM.

Há consenso entre os analistas de de que as estimativas de crescimento de 5% em 2007 são otimistas. 'Enquanto o governo não sinalizar de fato e concretamente que haverá um ajuste fiscal sério, passando pela reforma da Previdência e controle mais rígido de gastos, com melhora da qualidade em termos de infra-estrutura, vai ser difícil esperar um crescimento maior do PIB', diz Teixeira.