Título: Mercado não quer BC esvaziado
Autor: ANDRÉ PALHANO, VERA ROSA E GUSTAVO FREIRE
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Economia & Negócios, p. B4

Substituição dos atuais dirigentes do banco não seria bem recebida

O ex-diretor do Banco Central (BC), Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Investimentos, alertou ontem que a hipótese de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manter Henrique Meirelles no cargo de presidente do BC e substituir o quadro de diretores por profissionais com um perfil mais desenvolvimentista não seria bem recebida pelo mercado.

Na avaliação dele, uma mudança nesses moldes passaria a idéia de um presidente do BC 'esvaziado', o que poderia mexer nas expectativas da inflação e destruir o esforço de controle inflacionário feito nos últimos dois anos pela autoridade monetária. 'É agora que vem o bônus do trabalho e pensar em mudar traria insegurança. É um esforço que iria para a lata do lixo', disse Figueiredo.

Segundo o ex-diretor do BC, a mudança seria negativa e a simples discussão dessa possibilidade agora é contraproducente à medida que o mercado vê a implementação da política monetária como bem-sucedida. 'Poucas discussões são tão ruins como essa. Esse governo ficou durante quatro anos numa briga ferrenha contra a inflação. Discutir uma mudança nessa área é sempre ruim', afirmou ele durante a ExpoManagement 2006.

O economista-chefe do Deutsche Bank, José Carlos de Faria, concorda com Figueiredo quanto à manutenção da atual equipe de diretores. 'Isso seria bastante positivo, além de tranqüilo para o mercado financeiro. Seria a continuidade do que já vimos: uma política monetária responsável pautada pela meta de inflação.' Na avaliação dele, apesar da falta de confiança inicial do mercado, Meirelles se mostrou um excelente 'banqueiro central'. Ele avalia que Meirelles 'tem hoje credibilidade e boa reputação, apesar das críticas em relação ao ritmo de queda da taxa de juros'.

Faria reconhece que o BC pode ter elevado a Selic um pouco acima do necessário no início deste governo. Mas argumenta que o ciclo de queda tem de ser gradual, a exemplo do que está ocorrendo, para que a autoridade monetária consiga ver o efeito do corte na economia. Para este ano, o economista espera uma Selic em 13,25% e, para 2007, de 12%.

Para o mercado financeiro, vale a máxima de que em time que está ganhando não se mexe. Embora ainda considerem elevados os juros nominais, os economistas temem que uma nova equipe no BC acelere de forma irresponsável a queda da taxa e jogue por água abaixo todos os esforços feitos até agora para controlar a inflação. 'A melhor maneira de manter o sinal de uma política monetária estável, com meta de inflação e câmbio flutuante, é manter o Meirelles', afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima.

Na avaliação de Rodrigo Boulos, tesoureiro da Banif Investment Bank, a saída de Meirelles poderia trazer muita volatilidade ao mercado financeiro, especialmente num momento em que integrantes do PT falam no fim da era Palocci. Para ele, falar em mexer na equipe de dirigentes está associado a mexer também no cargo de presidente da autoridade monetária. Por isso, ele acredita que o melhor é a manutenção do quadro atual.

FRASES

Luiz Fernando Figueiredo Ex-diretor do BC

'É agora que vem o bônus do trabalho e pensar em mudar traria insegurança. É um esforço que iria para a lata do lixo.'

José Carlos de Faria Economista-chefe do Deutsche

'O Meirelles se mostrou um excelente banqueiro central. Tem credibilidade e boa reputação, apesar das críticas em relação ao ritmo de queda dos juros.'