Título: Brasil capta US$ 1,5 bi e paga a taxa mais baixa desde 1994
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Economia & Negócios, p. B5

Bônus com prazo de 10 anos pagam 159 pontos acima do juro do Tesouro dos EUA

O Tesouro Nacional conseguiu captar ontem no mercado internacional US$ 1,5 bilhão em bônus da República com o menor custo para o governo brasileiro desde a renegociação da dívida externa, concluída em 1994. Foi somente com a renegociação que o Brasil retornou ao mercado externo depois da moratória da década de 1980.

Atrelado ao dólar, o papel ofertado, chamado de Global 2017, tem prazo de vencimento de 10 anos e foi vendido com uma cláusula inédita prevista normalmente só para países que já são classificados como grau de investimento pelas agências internacionais de avaliação de risco. Essa nota é uma espécie de selo de qualidade para os investidores aplicarem recursos num país. A cláusula permite ao Tesouro brasileiro recomprar o papel para trocá-los por outros mais baratos.

Além do custo mais baixo, o volume da operação ficou acima da expectativa inicial do Tesouro, de vender entre US$ 750 milhões e US$ 1 bilhão. A demanda atingiu cerca de US$ 6 bilhões, segundo analistas.

O Brasil vendeu os papéis com spread de 159 pontos acima dos juros pagos pelo Tesouro dos Estados Unidos para títulos com prazo de vencimento em 10 anos. O spread capta a diferença da percepção de risco dos investidores entre os papéis brasileiros e os americanos, considerados os mais seguros do mundo. Com a queda do risco Brasil, acentuada este ano, o governo tem conseguido cada vez mais diminuir essa diferença, reduzindo o custo das emissões externas. Em 1999, ano de crise econômica e da mudança da política cambial, o Brasil chegou a vender um papel com mesmo prazo de vencimento com spread recorde de 850 pontos-base.

'Foi uma emissão histórica', avaliou o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor da área de assuntos internacionais do Banco Central. Segundo ele, o Tesouro vem sabendo tirar proveito do momento favorável ao País para fazer operações no mercado externo que reduzem o custo e melhoram o perfil da dívida externa.

No lançamento de ontem, que teve início na madrugada para atender ao mercado asiático, o Tesouro vendeu os papéis com taxa de retorno para o investidor de 6,249% ao ano, também a menor para os chamados bônus globais. O valor ficou abaixo dos 6,30% esperados pelos coordenadores da emissão, os bancos Deutsche Bank e Barclays Capital. A operação foi a primeira em dólares desde o início do ano, quando o Tesouro anunciou que só faria emissão no mercado internacional para melhorar o perfil da dívida, já que as reservas internacionais estão em volumes recordes.

Fontes informaram ao Estado que a cláusula nova embutida na venda, denominada de Make Whole Call, permite ao País recomprar os papéis dos investidores quando o título estiver sendo cotado em mercado a 25 pontos base acima dos títulos americanos de 10 anos. Isso tende a acontecer, segundo a fonte, quando houver redução mais acentuada do risco Brasil. Dessa forma, o governo poderá trocar esses papéis por outros mais baratos. 'É uma primeira experiência que mostra a qualidade da dívida, com o Brasil já se beneficiando de vantagens de países com investment grade', disse a fonte.

Por causa das regras do mercado americano, o secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, só poderá comentar a operação após sua liquidação, no dia 14.