Título: UE-Mercosul: sem avanços no Rio
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Economia, p. B8

No encontro, de dois dias, ficou decidido recomeçar as discussões com base nas ofertas feitas em 2004

Adriana Chiarini

Os países do Mercosul e da União Européia (UE) decidiram montar um pacote conjunto com base nas ofertas feitas em setembro de 2004 para recomeçar, a partir daí, a negociação do acordo entre os blocos.

O tom dos representantes do Brasil e da Argentina em entrevistas sobre a reunião de dois dias no Palácio Itamaraty do Rio contrastava. O chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty e da delegação brasileira no encontro, Régis Arslanian, disse, animado, que 'ficou decidida uma porção de coisas'. Já o secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina e chefe da delegação do seu país, Alfredo Chiaradia, vê mérito em retomar as conversações, mas demonstrando ceticismo afirmou que 'não se pode dizer que chegamos a destravar alguma questão'.

Arslanian acredita que na próxima reunião entre os blocos, em Bruxelas entre um e três meses, sejam apresentados números referentes a propostas de cortes de alíquotas tarifárias, cotas de exportação e prazos para implementar mudanças. 'Já apresentaremos números em agricultura, em Nama (acesso a mercado de produtos não-agrícolas) e em serviços', afirmou.

O secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Brasil, Mário Mugnaini, informou que os países do Mercosul ficaram de detalhar propostas em indústria e serviços, enquanto os europeus 'também vão detalhar as cotas (de exportação de produtos agrícolas pelo Mercosul para a UE), quem as administra e como se dá'.

Chiaradia, por sua vez, afirmou que 'não há pressa em negociar e oferecer mais (a UE) se nem sequer escutamos uma resposta favorável a um tema primário que queremos que é o de cotas agrícolas'.

De acordo com ele, nada foi dito sobre cotas agrícolas.

Para o chefe da delegação do Brasil, não há contradição. 'Ficou muito claro que não podemos dar os números de Nama e de serviços sem que eles (europeus) dêem os números de agricultura'.

Arslanian defendeu que 'é preciso que haja um paralelismo' de movimentos. Se houver contrapartida européia, disse, 'a gente está preparado para dar detalhamento' a temas como abertura de resseguros e de transportes marítimos, que interessam aos europeus.

Segundo Chiaradia, as cotas que o Mercosul quer são pequenas, da ordem de 3%, mas a UE oferece 0,6% do seu mercado em cotas. Ele afirmou que o Mercosul é flexível em temas em que a UE é sensível, como a agricultura, e aceita as cotas. 'Mas no que eu tenho sensibilidade, aí não, tem de ser livre comércio e em pouco tempo. Não dá. Em regime automotivo, a Argentina não está preparada (para o livre comércio)', disse. De acordo com ele, porém, o tema do regime automotivo também não foi tocado na reunião. Os integrantes da delegação européia passaram pela imprensa no Itamaraty dentro de uma van branca com todos os vidros, escuros, fechados.