Título: Vietnã entra na OMC e promete mais reformas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Economia, p. B8

Com crescimento de 7,5% ao ano, país asiático quer sair da lista das economias mais pobres até 2010

Jamil Chade

O Vietnã se torna o 150º país a fazer parte da Organização Mundial do Comércio (OMC) e promete, nos próximos anos, continuar seu processo de reformas para consolidar uma 'economia socialista de mercado' e sair do grupo de países mais pobres até 2010. Ontem, algumas das principais autoridades do Vietnã estiveram em Genebra para assinar a adesão de um dos países que mais cresce na Ásia à entidade. Mas, questionados sobre possíveis reformas políticas no sistema de um só partido, os ministros vietnamitas ignoraram a pergunta.

O Vietnã conseguiu o sinal verde para entrar na organização depois de quase 12 anos de negociações e 20 anos de reformas. 'Esse é um dia memorável para a integração econômica do Vietnã no mundo', afirmou o vice-primeiro ministro do país, Pham Gia Khiem. O país que cresce em média 7,5% por ano e recebeu em 2005 US$ 6 bilhões em investimentos estrangeiros, desponta como um dos pólos de atração de empresas de todo o mundo.

Para o diretor da OMC, Pascal Lamy, o ingresso do Vietnã vai 'ajudar o país a ancorar suas reformas e no uso da abertura comercial para ser um motor de crescimento econômico e desenvolvimento'. Lamy evitou falar sobre questões políticas, ainda que organizações não-governamentais acusem a OMC de estar ajudando a legitimar o atual regime vietnamita.

'Se as reformas continuarem e o país investir em infra-estrutura, tem grandes chances de ser estrela no comércio mundial', afirmou Lamy, que destaca que os compromissos do Vietnã de abrir sua economia e autorizar o funcionamento de bancos estrangeiros no país serão cumpridos até 2014.

Para Pham Gia Khiem, o objetivo do governo com as atuais reformas é o de melhorar a renda da população. Uma das metas é conseguir tirar o país do grupo das economias mais pobres em apenas quatro anos. Ele afirmou que esse sempre foi o objetivo do país, que teve de enfrentar uma guerra e 'lutar contra embargos' impostos pela comunidade internacional.

Além das reformas comerciais, o Vietnã promete mudanças na administração e a 'erradicação da corrupção' para garantir o crescimento do país. 'Esperamos que nossa entrada na OMC seja a oportunidade para atrair investimentos, abrir mercados e obter tecnologia.'

Quem também comemorou a entrada do Vietnã na OMC foi Washington. Segundo a Casa Branca, as relações com o ex- inimigo sofreram uma 'metamorfose' e não há nenhum país mais 'orgulhoso' da entrada do Vietnã na OMC que os EUA.

O interesse americano pelo país tem motivo: com a mesma população da Alemanha, nos próximos anos o Vietnã deve ser um importante mercado na Ásia. Entre 2000 e 2005, dobrou seu PIB. No período, as exportações e importações americanas aumentaram em 400% e somam US$ 7,8 bilhões.

O comércio entre Brasil e Vietnã ainda é incipiente, com menos de US$ 150 milhões em exportações e importações. Mas o Itamaraty garante que quer, a partir de agora, fortalecer as relações com o país asiático.