Título: Mercado oscila com as incertezas
Autor: Nalu Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Investimentos, p. H

Volatilidade cresce diante de dúvidas em relação às economias desenvolvidas, ao petróleo e ao Oriente Médio

Risco e incerteza são as palavras do momento na definição do rumo do mercado financeiro global. As análises deixam claro o elevado grau de dúvida em relação ao futuro próximo, ao citar o petróleo caro, a preocupação com o crescimento dos Estados Unidos, a tensão no Oriente Médio, as ameaças terroristas (em 11 de setembro completam-se cinco anos desde o ataque ao World Trade Center, em Nova York) e até a possibilidade de pandemias. O principal motor da economia global dá sinais de fadiga. No segundo trimestre, os EUA cresceram 2,9%, ante 5,6% no trimestre anterior. No dia 20, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) decide o rumo do juro, atualmente em 5,25% ao ano. Embora a taxa tenha ficado inalterada em agosto, a decisão não foi unânime e, dependendo de dados econômicos, poderá voltar a subir.

Outros importantes bancos centrais também elevaram o juro. Na zona do euro, a melhora da economia tem empurrado a inflação acima da meta de 2% do Banco Central Europeu. Em resposta, o juro já subiu três vezes neste ano, para 3,0%. No Japão, a economia mais aquecida pôs a inflação ligeiramente em território positivo (0,3%) e fez com que o BC local abandonasse a política de juro zero. Contudo, essas regiões devem sentir o impacto da perda de fôlego da economia americana.

O crescimento mais vagaroso do PIB dos EUA no segundo trimestre indica que o país talvez caminhe para um 'pouso'.

A metáfora compara a economia a uma aeronave que, depois do vôo - ou forte crescimento -, começa o procedimento de aterrissagem. A ansiedade é sobre o impacto desse pouso. O comportamento dos consumidores e o ritmo de esfriamento do setor de imóveis determinarão se a aterrissagem será brusca ou se o mercado terá seu desejado 'pouso suave'.

Na dúvida, os investidores estão cautelosos. Em agosto, o índice Dow Jones continuava subindo (acumulou valorização de 1,8% no mês e 9,3% em 12 meses). Mas os lucros corporativos nos EUA poderão cair, se o crescimento desacelerar ou se a inflação trouxer novo aumento do juro - e lucros menores provocariam queda na bolsa.

A ansiedade se repete no setor de petróleo. A capacidade ociosa de produção não basta para acalmar o mercado. A expectativa é que a demanda global fique em 30,6 milhões de barris diários de petróleo neste ano, segundo o Centro de Estudos de Energia Global (CGES), sediado em Londres. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com reunião marcada para o dia 11, deve segurar a oferta em 30 milhões de barris diários.

O preço médio estimado para o barril do petróleo Brent em 2006 é de US$ 68,2, mas a previsão para o quarto trimestre fica acima de US$ 70. A projeção não prevê interrupções que poderiam ocorrer em caso de guerra no Oriente Médio ou se refinarias nos EUA forem atingidas por furacões.