Título: Investidor tem baixa expectativa de reformas
Autor: Josué Leonel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Investimentos, p. H

Nova gestão presidencial poderá aquecer economia se mostrar disposição para mudanças

A possibilidade de a eleição de 2006 causar maior volatilidade nos mercados é muito pequena, mas isso não significa que a disputa pela Presidência seja ignorada pelos investidores. O mercado financeiro quer saber, principalmente, quais forças emergirão das urnas e o que elas indicarão sobre as reformas necessárias para melhorar o desempenho da economia, comenta o cientista político Christopher Garman, da consultoria Eurasia, de Nova York.

Garman observa que as expectativas de reformas são 'excessivamente baixas' para o caso de reeleição de Lula. O consultor não descarta, porém, a hipótese de o governo obter um arranjo político que permita avanços. Ainda que não sejam aprovadas grandes mudanças previdenciárias e trabalhistas, como desejam os investidores, seria possível programar uma agenda mínima de melhoras na área fiscal. Para Garman, Lula tem mostrado convicção de que a inflação baixa e os resultados da política macroeconômica ortodoxa garantem sua posição nas pesquisas, e tentará dar sustentabilidade a esse modelo.

Um ritmo muito lento das reformas, no entanto, não seria bem recebido. 'Seria lamentável, pois o País precisa de reformas para conseguir crescer mais do que 3,5% ou 4% ao ano', afirma o estrategista Paulo Tenani, do banco UBS Wealth Management. Ele admite que esse cenário de reformas vagarosas 'está no preço' e não afetará as cotações do mercado. Pelo contrário: uma eventual surpresa, com Lula imprimindo ritmo mais acelerado às reformas, detonaria nova escalada de alta dos ativos brasileiros.

Em caso de vitória de Geraldo Alckmin, do PSDB, o mercado espera a manutenção da base da política macroeconômica, mas com maior chance de avanços na 'agenda microeconômica'. Além de, na visão do mercado, ser mais favorável a reformas, o tucano traria esperança de retomada das privatizações, por tê-las comandado no governo de Mário Covas em São Paulo. Um governo Alckmin poderia ainda melhorar o marco regulatório e atrair mais investimento, observa Solange Srour, economista-chefe do Mellon Global Investments Brasil.

Maior risco de turbulência ocorreria no caso de Heloísa Helena, do PSol, surpreender e passar ao segundo turno. Haveria 'stress grande', pois as críticas da candidata ao superávit primário e sua promessa de reduzir os juros rapidamente, se implementadas, seriam um 'retrocesso', observa Solange.

Mesmo nessa hipótese mais remota, porém, a tensão provavelmente não seria tão forte quanto na eleição 2002.