Título: Para Furlan, faltam propostas de empresários para o câmbio
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Economia, p. B6

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem ao Estado que existe "uma carência de propostas" do setor empresarial para resolver o problema da valorização do câmbio. Segundo ele, o governo tem ido ao encontro dos anseios da maior parte do setor privado ao comprar dólares para enxugar o mercado, mas isso não tem sido suficiente para conter a alta do real.

"Estamos tendo uma carência de propostas porque, no fundo, o que o setor privado achou que o governo tinha de fazer, que era comprar os excedentes, não tem provocado reação na taxa de câmbio. Então, precisamos encontrar outros mecanismos que dêem um horizonte para as empresas."

Furlan disse que a discussão no governo é para encontrar uma forma de evitar um descasamento entre o custo e a receita das empresas. Ele admitiu, no entanto, que não tem a solução. "Eu não sei. Não sou especialista em câmbio. O que a gente tem pedido ao Ministério da Fazenda e ao Banco Central são medidas que poderiam ser viáveis para dar sustentabilidade ao câmbio", afirmou, destacando que qualquer medida deve levar em conta a manutenção do regime de câmbio flutuante.

Ao visitar ontem em Piracicaba a fabricante de máquinas agrícolas e de construção Case New Holland, o ministro voltou a ouvir reclamações sobre o custo de transporte no Brasil e os feitos do câmbio. O presidente da empresa na América Latina, Valentino Rizzioli, disse que perdeu o mercado da África do Sul para a empresa do grupo na Bélgica. "Já tivemos uma vantagem competitiva em relação à Bélgica. Agora, o nosso custo é cerca de 10% mais alto." Segundo ele, a elevação do preço do aço no mercado doméstico tirou competitividade da empresa no Brasil.

Furlan argumentou que o governo zerou a alíquota do Imposto de Importação do aço e, teoricamente, o preço doméstico deveria estar igual ao do mercado internacional. Ele também sugeriu negociar a retirada de impostos em acordo bilaterais com a África do Sul.

Embora admita que o câmbio tenha afetado o faturamento das empresas, Furlan não concorda com a avaliação de que o comércio exterior seria o vilão do baixo crescimento da economia este ano.

"Não é verdade. É muito fácil ver que as quantidades estão aumentando. Não na mesma velocidade que o faturamento, mas estão crescendo." Segundo ele, o Ministério do Desenvolvimento fez um mapeamento de 54 setores. O ministro destacou que há uma "mudança de mix" na pauta de exportação. Como exemplo, citou as vendas de petróleo bruto, que podem estar sendo substituídas por óleo lubrificante ou combustíveis já processados.

Ele disse também que não considera pouco o crescimento em torno de 3% no volume das exportações este ano. Furlan justificou este crescimento pequeno com a mudança de nível da balança comercial, já que as exportações, hoje, são o dobro do que eram em 2002.

Na avaliação do ministro, para um crescimento de 20% ao ano nas exportações é preciso investir na melhoria da infra-estrutura e nos ganhos de produtividade. "É aí que o País tem um nó para desatar. O restante é decorrência." Segundo ele, além de investimentos em infra-estrutura, é preciso investir em tecnologia e inovação, na simplificação e desburocratização de processos e, se possível, desonerar todo o investimento e boa parte da produção.

"Hoje, infelizmente, temos uma matriz tributária construída ao longo dos anos que nós estamos tentando consertar. Uma boa parte da arrecadação é baseada sobre a produção e o investimento, e isso está errado."

Ao ser questionado se novas desonerações poderiam ocorrer este ano, afirmou que sua equipe acredita que "o jogo só termina quando o juiz dá o apito final". "Nós vamos jogar em ritmo de campeonato, até o último minuto este ano."