Título: Em campanha por Chávez, Lula diz que foi agredido pela mídia brasileira
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2006, Nacional, p. A4

Presidente se diz vítima de 'incompreensão e preconceito' e critica empresários, banqueiros e ex-governantes

Denise Chrispim Marin, ENVIADA ESPECIAL, CIUDAD GUAYANA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou ontem publicamente a candidatura à reeleição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e festejou o retorno de Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação, ao poder na Nicarágua. Ao lado de Chávez num palanque, diante de 30 mil pessoas reunidas para a inauguração de uma ponte rodoferroviária em Ciudad Guayana, Lula declarou que, assim como o líder venezuelano, tornou-se 'vítima da incompreensão e do preconceito' da imprensa, do empresariado, dos banqueiros e de ex-governantes durante as eleições.

Ontem, o presidente lembrou sua impressão desfavorável, na primeira viagem oficial à Venezuela, em 2003, pelas 'agressões' da imprensa local a Chávez. 'Jamais imaginei que isso podia acontecer no Brasil. E aconteceu o mesmo, querido companheiro', discursou. Não é a primeira vez que Lula faz críticas à atuação da mídia (ver quadro abaixo).

'O que mais consolidou a minha consciência de que nós estávamos certos é que o povo reagiu no momento certo. E o mesmo povo que elegeu a mim, que elegeu Néstor Kirchner, o Daniel Ortega, o Evo Morales, certamente irá te eleger presidente da Venezuela', completou, dirigindo-se a Chávez.

O papel de cabo eleitoral de Chávez, que disputa com o empresário Manuel Rosales a eleição de 3 de dezembro, foi o que marcou a primeira viagem oficial de Lula desde a sua reeleição. Chávez prometeu retribuir a visita, em 7 de dezembro.

'Neste país acontece exatamente o mesmo que no Brasil. Eu conheço o tipo de críticas que fazem a você. É a mesma que faziam a mim', discursou Lula. 'Os banqueiros ganharam muito dinheiro no Brasil e certamente ganham muito aqui na Venezuela. Alguns empresários ganham muito dinheiro aqui, como ganharam muito dinheiro lá. Mas, se tiverem de fazer uma opção entre você e o outro que seja mais próximo deles, não tenha dúvidas de que o preconceito fará com que estejam do lado de lá', completou o presidente, alheio à presença do empresário Emílio Odebrecht entre os convidados.

Lula disse esperar que a população cobre mais no segundo mandato.'Tenho certeza de que o povo brasileiro, que me deu um voto de confiança, será mais exigente', afirmou.

Falando de improviso, Lula cometeu uma gafe: referiu-se aos 'homens e mulheres da Bolívia'. O tradutor, que convertia cada frase para o espanhol, o seguiu literalmente, mas percebeu e corrigiu o erro. Lula ouviu e retomou: '...da Venezuela'.

No Brasil, a oposição criticou atitudes e falas do presidente Lula. Líderes do PFL e do PSDB no Senado cobraram que ele 'desça do palanque'.

'O que vejo é um cenário de completa paralisia, em que o presidente continua sustentando a retórica do palanque', criticou Álvaro Dias (PSDB-PR). 'Lula já gastou quase um ano fazendo campanha eleitoral no Brasil e agora vai fazer campanha na Venezuela', protestou José Jorge (PFL-PE). 'A propaganda dele não dizia 'deixa o homem trabalhar'?', provocou o pefelista, vice na chapa de Geraldo Alckmin. 'Pois então, que trabalhe!'

COLABOROU CHRISTIANE SAMARCO