Título: Para analista, problema é da política fiscal, não do BC
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Economia, p. B4

O fraco desempenho da economia brasileira nos últimos meses revitalizou o debate sobre se isso foi causado pela política monetária excessivamente conservadora do Banco Central (BC) ou por questões estruturais. Para Alexandre Bassoli, economista do Banco HSBC, a resposta está no terreno estrutural. Sem melhora da qualidade da política fiscal, a economia dificilmente poderá almejar uma expansão mais ambiciosa de forma sustentável.

Bassoli prevê que o crescimento em 2006 ficará ao redor de 3%, abaixo da projeção de 4% do BC e dos 3,2% do consenso do mercado. "Nossa projeção de 3% contempla uma aceleração importante do ritmo de expansão na segunda metade do ano, como é plausível esperar, principalmente considerando os efeitos defasados do afrouxamento monetário que ainda estão por se materializar", explicou.

"A projeção oficial de 4%, por sua vez, parece, a esta altura, pouco plausível. Ela exige um crescimento médio trimestral de 2,2%, o que equivale a um ritmo anualizado de 9,1%, na mesma magnitude do que se viu na China em anos recentes, mas muito distante da realidade brasileira."

Bassoli afirma que a obtenção de um ritmo de expansão superior ao potencial está fora do alcance da política monetária. Ele lembra que taxas de crescimento pobres têm sido a tônica dos últimos 25 anos, o que sugere que sejam resultado de causas estruturais, não conjunturais.

"De uma ótica de médio prazo, a evolução recente sugere até mesmo uma tendência positiva", disse. "Caso se confirme nossa projeção de 3% para 2006, teremos tido um crescimento médio de 3,4% no triênio 2004-06, o que caracterizaria o melhor desempenho desde os três anos terminados em 1996, em meio ao boom que se seguiu à estabilização da economia."

Segundo ele, o PIB fraco deveria suscitar mais debates sobre a política fiscal e menos sobre a política monetária. "A única contribuição que a política monetária pode oferecer à aceleração do crescimento de longo prazo é a criação de um ambiente de maior previsibilidade e menores oscilações do produto e houve neste campo um progresso substantivo", disse.