Título: Desafio é fazer setor privado investir, diz Franco
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Economia, p. B4

Para ex-presidente do BC, País nunca fez programa de governo para facilitar vida das empresas

Para que o Brasil possa ter um crescimento sustável é necessário que os investimentos no País aumentem de maneira mais consistente e com muito mais força, na avaliação do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, sócio-diretor da Rio Bravo Investimentos. "A taxa de investimento é muito baixa", disse, em entrevista à Agência Estado.

Enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do Brasil responde por 20% do Produto Interno Bruto (PIB), nos países asiáticos esse porcentual está em mais de 30%. "Temos de dar um salto dos 20% para 33%", sugeriu. "Por que é tão difícil? Porque o que o que nós não temos e tivemos no passado é o investimento público", disse.

Ele lembrou que a FBCF do setor público já chegou a representar cerca de 30% do PIB. Hoje, fica em torno de 2% ou 3%. "E não há nada de errado nisso. O papel do setor público está focado no gasto e custeio de natureza social", disse. Naquela época, frisou, os investimentos visavam a aumentar o "poder de fogo do governo".

Segundo Franco, as contas públicas "infelizmente" não permitem que esse porcentual cresça. "Com as obrigações que o Estado tem não é possível imaginar que irá investir mais que 2% ou 3%", afirmou. "Vamos esquecer que o setor público vá ser relevante nos investimentos", disse o ex-presidente do BC. Para ele, imaginar que o governo poderá fazer drástica redução de despesas é "romance".

Para Franco, o crescimento agora depende do setor privado. "A grande tarefa é fazer o setor privado chegar a 25%. Esse é o desafio." Um desafio, que segundo ele, pode ser vencido com reformas, mas reformas que "tenham a ver com a economia privada". "A gente nunca fez programas de governo para facilitar a vida das empresas", criticou.

O ex-presidente do BC acredita que o governo pode e deve propiciar um ambiente mais calmo e amistoso para tornar mais viáveis os investimentos privados. "O Brasil é péssimo em burocracias."

Isso significa, de acordo com Franco, que é preciso combater algumas questões que inibem diretamente o crescimento, como o custo capital, o acesso ao crédito e os altos tributos. Franco disse que, se os tributos caírem e se as leis trabalhistas mudarem, o País poderá crescer mais rápido, chegando a ao menos 4% ou 5% ao ano.

INVESTMENT GRADE

Franco, no entanto, se mostrou cético em relação à possibilidade de as mudanças necessárias, e aí estão incluídas várias reformas, ocorram no próximo governo. "Tenho a impressão de que não faz parte da retórica de nenhum dos candidatos", afirmou, referindo-se aos candidatos à Presidência.

O ex-presidente do BC está pessimista quanto à possibilidade de o Brasil tornar-se grau de investimento num prazo de quatro anos. "Acho um pouco otimista (essa estimativa) pelo que estou vendo dos candidatos nas suas primeiras manifestações, especialmente do presidente Lula. Não se vê uma percepção muito clara desse processo de ciclo virtuoso."

Segundo ele, só a partir de definido o próximo presidente e sua equipe econômica é que se poderá ter uma idéia mais clara da velocidade com a qual o Brasil vai avançar, especialmente na área fiscal. Franco também disse que a tendência para o dólar é de queda, especialmente depois das eleições de outubro.

FRASES

Gustavo Franco Ex-presidente do BC

"A taxa de investimento é muito baixa (no País)"

"A Formação Bruta de Capital Fixo deve dar um salto de 20% para 33% do PIB"

"O Brasil é péssimo em burocracias"

"Vamos esquecer que o setor público vá ser relevante nos investimentos"