Título: Governo vai rever previsão do PIB
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Economia, p. B4

Appy dá sinais de que não há mais confiança no crescimento de 4%, mas diz que meta 'não é impossível'

O governo vai reavaliar a projeção de crescimento econômico do País para este ano, informou ontem o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. Ele não descartou a manutenção da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 4% sobre 2005. Mas não expressou a mesma "convicção" e "confiança" que, na sexta-feira passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, respectivamente, afirmaram ter. "Não é impossível 4%", disse Appy.

De acordo com o secretário, a revisão será feita "nos próximos dias" e é necessária para que o Executivo mande as informações de despesas e receitas federais atualizadas para o Congresso Nacional, o que faz periodicamente.

Na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a expansão no primeiro semestre foi de apenas 2,2% sobre o mesmo período do ano passado. Esse desempenho, abaixo das expectativas, levou o mercado financeiro a reduzir suas projeções para o PIB de 3,5% para 3,2%, segundo o Banco Central. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento que tem autonomia em suas projeções, vai divulgar na quarta-feira a revisão para baixo da expectativa de crescimento do PIB, que era de 3,8%.

Na entrevista que deu ontem durante o seminário em comemoração aos 30 anos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Appy afirmou que mais importante que o número da previsão é o crescimento ser sustentável e reafirmou que a tendência do desempenho da economia no terceiro trimestre é de crescimento.

O secretário admitiu que este ano, mais uma vez, o Brasil crescerá menos que outros países emergentes. Argumentou que "o processo de estabilização do Brasil é diferente do de outros países em desenvolvimento". Ele considera que "no longo prazo" a tendência é o desempenho do País se aproximar do de outros emergentes.

No mesmo evento, o vice-presidente do Banco Itaú, Alfredo Setubal, disse que o crescimento do PIB este ano "está mais para 3% do que para 3,5%". Ele acredita que a taxa básica de juros, a Selic, pode ser reduzida do atual nível de 14,25% para 13,25% até o fim do ano. "Tem espaço para reduzir os juros porque a inflação está muito baixa", disse o executivo.

Ele lembrou que na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a decisão de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual foi unânime. "Então por que não mais 0,5 na próxima reunião? Ainda mais com esse PIB."

Segundo Setubal, a redução dos juros terá impacto benéfico sobre os gastos do governo e compensará, em parte, o aumento de outras despesas. Ele disse acreditar que a meta de superávit primário do setor público, de 4,25% do PIB, será cumprida este ano e no próximo.

Mercado reduz projeção de 3,5% para 3,2%

O mercado financeiro reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano de 3,5% para 3,2%. A queda captada na pesquisa semanal do Banco Central (BC) veio após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ter divulgado na semana passada que o PIB do segundo trimestre cresceu apenas 0,5%.

Para o economista-chefe da GAP Asset Management, Alexandre Maia, as estimativas de aumento do PIB neste ano tenderão a oscilar entre um piso de 3% e um teto de 3,30%. "A oscilação das projeções, daqui para frente, dependerá muito das novas informações sobre o nível de atividade da economia que forem divulgadas", disse Maia.

Para 2007, as apostas para o ritmo de expansão da economia continuaram em 3,5%. "O mercado está ficando cada vez mais consciente de que esta é a taxa em podemos crescer no médio prazo sem conviver com o risco de aumento da inflação." A hipótese de o PIB crescer 4% em 2007, na opinião de Maia, é praticamente inexistente.

Para que isso venha a acontecer, segundo ele, o País terá de passar por reformas que propiciem mais investimentos. Com investimentos mais altos, a própria capacidade da economia crescer sem provocar aumento dos preços se expandiria. Há duas semanas, o mercado ainda trabalhava com uma previsão de expansão de 3,7% em 2007. Gustavo Freire