Título: Desgastado, Gushiken decide deixar o governo
Autor: João Domingos, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2006, Nacional, p. A6

Ex-ministro havia caído no ostracismo, depois de perder o controle sobre a área de comunicação por conta da crise do mensalão

Alvo de investigação no Tribunal de Contas da União (TCU), o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Luiz Gushiken, pediu demissão do cargo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou. Tão influente quanto o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) nos dois primeiros anos do governo, ele ficou muito desgastado após o escândalo do mensalão e as suspeitas levantadas pela CPI dos Correios de irregularidades na distribuição da propaganda do governo e interferência indevida nos fundos de pensão.

Afastado por Lula da Secretaria de Comunicação do Governo em 2005, passou a se dedicar a assuntos estratégicos e viveu uma fase de ostracismo. Gushiken era do chamado núcleo duro - que praticamente dava a linha política no início do governo. O grupo incluía Dirceu e os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência). Deles, só sobrou Dulci, já que Gushiken parou de freqüentar o gabinete presidencial.

Gushiken foi coordenador de três das cinco campanhas de Lula. Foi convidado a fazer a da reeleição, mas recusou. Esperou o resultado do segundo turno e no dia 30 avisou às pessoas próximas que deixaria o governo. Na sexta-feira, encaminhou a carta de demissão, dividida em duas: uma para o amigo Lula e outra para o presidente.

Na que se destina ao presidente, Gushiken elogia 'a memorável vitória' no segundo turno. Diz que, no futuro, 'a história haverá de fazer o adequado registro' dos avanços alcançados pelo governo.

O petista prevê que o clima beligerante da campanha cederá, mas alerta: 'Não devemos nos esquecer das lições da crise política deflagrada há dois anos. Esta experiência impõe uma profunda reforma política e a contínua modernização institucional, como forma de possibilitar maior transparência das atividades públicas e menor suscetibilidade do aparelho estatal às vicissitudes éticas inerentes ao jogo da política.'

'Tenho apresentado a minha defesa e as provas documentais da correção de minha conduta', defende-se. 'Estou absolutamente tranqüilo que, no exame sereno e fiel dos fatos, restará provada, de forma cabal e definitiva, a minha integridade pessoal, bem como a dos funcionários da Secom.'

Já na carta ao amigo, Gushiken faz agradecimentos e se despede. 'Somos-lhe profundamente gratos, eu e meus familiares, pela confiança que depositou em minha pessoa nestes quatro anos de governo.' E finaliza: 'Encerro a presente etapa com minha missão cumprida, razão pela qual formalizo meu pedido de exoneração, estando plenamente satisfeito com as mudanças que ajudei a implementar na Secom.'