Título: 71% dos mexicanos são contra protestos de López Obrador
Autor: REUTERS, AP, AFP E EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Internacional, p. A14

Justiça Eleitoral tem prazo até hoje para declarar o governista Calderón presidente eleito

O bloqueio das principais ruas e avenidas da Cidade do México por milhares de partidários do candidato esquerdista Andrés Manuel López Obrador tem a desaprovação de 71% dos mexicanos, de acordo com uma pesquisa publicada ontem pelo jornal El Universal. Entre os que estão contra as manifestações há eleitores que escolheram o candidato esquerdista na eleição presidencial do dia 2 de julho, quando López Obrador conquistou 35% dos votos.

Apenas 23% dos 1.000 entrevistados na sondagem se disseram favoráveis às ações qualificadas por López Obrador de "medidas de resistência civil", com as quais os manifestantes exigem a recontagem total dos votos. A porcentagem dos que aprovam os protestos é menor daquela dos que acreditam que a votação foi fraudada, 28%.

Apesar da desaprovação, os protestos - que segundo empresários do setor de turismo já causaram prejuízo de US$ 370 milhões e a perda de 5 mil postos de emprego - tendem a se intensificar hoje. O Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (conhecido como Trife) deve proclamar hoje o vencedor da eleição e a probabilidade de que aceite a demanda dos partidários do centro-esquerdista é quase nenhuma. Assim, o Trife deve confirmar a vitória do candidato governista, Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), por uma vantagem de 0,57 ponto porcentual (244 mil votos) sobre López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD). Fontes do tribunal confirmaram à Reuters que a proclamação do governista já foi decidida.

"Não deve haver nenhuma surpresa e sabemos que vão oficializar a imposição de alguém que não venceu a eleição para a presidência", reconheceu ontem Gerardo Fernández, porta-voz do PRD. "Aguardamos a decisão com calma e confiança", disse, por seu lado, o chefe da equipe de transição de Calderón, Juan Camilo Mourino. "Amanhã (hoje), Felipe Calderón será presidente eleito." Uma vez confirmada sua vitória, Calderón terá a difícil tarefa de superar os protestos dos partidários de López Obrador, ampliar sua base de apoio e unir um país polarizado.

Os manifestantes do PRD prometem que não deixarão as ruas e López Obrador diz que formará um governo paralelo e assegura que "não reconhecerá um presidente espúrio". Ele quer também convocar uma Constituinte para "transformar as instituições do país". No domingo, o candidato do PRD advertiu ao governo e ao Exército para que evitem "a tentação de reprimir" os manifestantes.

Há mais de um mês, os militantes do PRD estão acampados em vários pontos do centro da capital, incluindo a Avenida Reforma, e prometem não abandonar o acampamento nem mesmo em 16 de setembro, data nacional do país. Todos os anos, soldados da Forças Armadas desfilam pela avenida nesse dia.

O governo de Fox afirmou ontem que o Exército "jamais reprimirá ninguém" e qualificou de "propaganda" o temor expressado por López Obrador. Ex-prefeito da Cidade do México, López Obrador planeja realizar uma "convenção democrática" no dia 16, na qual será eleito "um presidente legítimo".