Título: FHC defende prévias no PSDB para 2010
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2006, Nacional, p. A8

Para ele, é preciso 'profissionalizar' fiscalização a Lula

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem unidade do PSDB, em um recado aos grupos do governador eleito de São Paulo, José Serra, e do reeleito de Minas, Aécio Neves, e defendeu a realização de prévias para a escolha do futuro candidato tucano à Presidência em 2010. Para Fernando Henrique, as duas questões devem estar na pauta da reestruturação para fortalecer o PSDB. 'Por que ter medo de prévias?', indagou o ex-presidente em um encontro a portas fechadas com deputados estaduais e federais tucanos.

Foi um dos poucos momentos em que a platéia rompeu o silêncio e aplaudiu Fernando Henrique. Do lado de fora, para os jornalistas, o ex-presidente foi lacônico, quando indagado se era favorável à instituição de prévias. 'Eu sou', respondeu.

O assunto sempre foi tabu no PSDB, mas a disputa interna entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o então prefeito José Serra para encabeçar a chapa nas eleições deste ano, apontada por tucanos como um dos motivos da derrota nas urnas, acendeu o sinal vermelho. Sem citar nomes, mas mandando um aviso a Serra e Aécio, Fernando Henrique disse que 'a verdadeira liderança tem de ter sensibilidade em certos momentos e saber que não é para atirar no outro'. 'É para dar as mãos', emendou, aplaudido mais uma vez. Serra e Aécio são os nomes mais cotados do PSDB para a disputa presidencial em 2010. Em outro momento, foi mais explícito: 'Questão de fulano ou beltrano é perda de tempo contra nós', sentenciou.

O líder tucano negou as especulações de que o governador eleito de São Paulo tenha planos de deixar o PSDB e fundar um novo partido de centro-esquerda. 'Não existe isso. O Serra falou outra coisa: facilitar a mudança de pessoas de um partido para outro, mas nada consistente. Eu falei com o Serra por telefone lá nos Estados Unidos e ele disse que não vai criar partido nenhum.'

ORGANIZAÇÃO

Fernando Henrique voltou a criticar a falta de organização do partido e cobrou maior diálogo com a população e posição mais clara sobre temas nacionais, como a Amazônia, a questão energética e a segurança pública. 'Qual a nossa posição?', perguntou várias vezes aos deputados. Em tom duro, respondeu algumas vezes: 'Tem de ter posição.'

Ele sugeriu que se inicie esse diálogo e o debate, promovendo reuniões, seminários e congressos. 'É preciso que haja mais fluidez de comunicação dos vários membros do partido com aqueles que não são do partido. Se o partido só fala para dentro não adianta. Tem de falar para fora. E para isso precisa ter internet, reuniões, seminários, congressos, discutir os temas do País.'

O ex-presidente criticou a oposição feita pelo PSDB nos últimos quatro anos e disse que o partido precisa 'profissionalizar' a fiscalização do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, propôs ao presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (que não estava presente), a contratação de uma consultoria para fazer o que chamou de 'acompanhamento rigoroso' das ações do Executivo. 'Se não profissionalizar, não vai funcionar', adiantou.

Ele também opinou sobre qual deve ser o comportamento do PSDB diante dos pedidos de governabilidade de Lula. 'Nós não vamos votar contra o Brasil como o PT fez várias vezes. Mas isso não quer dizer que tenhamos de estar lá toda hora tomando cafezinho com o presidente.'

Nesse processo de rearranjo partidário, Fernando Henrique disse ser a favor à renovação de quadros políticos, mas não a considerou fundamental neste momento. 'Quantos mais quadros novos vierem, melhor. Mas isso não é importante agora, não.' Segundo ele, Tasso vai cumprir seu mandato até o fim de 2007.