Título: Até 3 processos para cada deputado relatar
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Nacional, p. A4

Parlamentares vão analisar o pedido de cassação feito pela CPI contra 67 deputados

Treze dias depois de abertos no Conselho de Ética da Câmara, os processos contra os 67 acusados de ligação com o esquema sanguessuga começaram a andar ontem: foram escolhidos os 28 relatores dos pedidos de cassação apresentados pela CPI dos Sanguessugas. Agora, o conselho só deve voltar a funcionar plenamente, ouvindo testemunhas e analisando a defesa dos acusados, após as eleições de 1º de outubro.

"Espero ouvir as primeiras testemunhas em 3 e 4 de outubro e terminar todos os processos até dezembro", contou o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), depois de sortear os relatores. Até dia 11 todos os acusados serão notificados. Eles terão cinco sessões para apresentar defesa por escrito. Como o Congresso está em recesso branco por causa da campanha, na prática o prazo vai até o fim das eleições.

"Assim que entregarem a defesa, começo a ouvir testemunhas. A idéia é criar oito subcomissões, para ouvir três a quatro por dia", disse Izar. Segundo ele, o conselho ouvirá Luiz Antônio Vedoin e Darci Vedoin, donos da Planam, principal empresa do esquema.

Para evitar pressões, Izar optou por escolher relatores por sorteio, entre os 28 titulares e suplentes do conselho - o regimento não permite que ele e o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), sejam relatores. Do total, 13 deputados ficaram incumbidos de analisar 3 casos cada um. Outros 13 vão analisar 2 processos cada um. Apenas 2 deputados ficaram com apenas 1 processo.

A lista de relatores traz preocupação para investigadores e investigados. Alguns processos ficaram com combativos integrantes da CPI e outros com parlamentares que foram citados nos documentos apreendidos pela Polícia Federal, mas isentados por Vedoin.

O presidente da CPI, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), é o relator dos processos de Cleuber Carneiro (PTB-MG), Ildeu Araújo (PP-SP) e Wanderval Santos (PL-SP). Biscaia conhece bem documentos e depoimentos e participou ativamente da negociação do relatório que concluiu pela remessa de 72 nomes para os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado.

O vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE), vai analisar os casos de Reginaldo Germano (PP-BA) e Jorge Pinheiro (PL-DF). Jungmann foi o primeiro a divulgar a contabilidade revelada por Vedoin, que apontava o envolvimento de cerca de 80 parlamentares.

Na outra ponta, a papelada produzida pela PF pode produzir desconfortos. Josias Quintal (PSB-RJ), por exemplo, chegou a ser investigado pela CPI. Além de ter seu nome em planilhas da Planam, Vedoin citou-o como beneficiário do esquema. Mas depois o empresário o inocentou e ele entrou na lista dos 18 absolvidos pela CPI.

Izar, Cláudio Magrão (PPS-SP) e Ann Pontes (PMDB-PA)tiveram emendas seguidas de perto pela máfia, mas Vedoin os isentou. Márcio Reinaldo Moreira (PP-MG) não aparece em documentos da PF, mas está no levantamento feito pela Controladoria-Geral da União de parlamentares cujas emendas foram executadas por empresas ligadas à máfia.