Título: CGU mapeia 33 empresas suspeitas de integrar esquema das ambulâncias
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2006, Nacional, p. A4

Levantamento será um dos fios condutores da devassa em contratos na área de saúde com 600 prefeituras

Um mapa elaborado pela Controladoria-Geral da União, com base no cruzamento de dados das prestações de contas das prefeituras, nas escutas telefônicas e nos depoimentos colhidos pelo Ministério Público Federal e pela CPI dos Sanguessugas, mostra que o esquema das ambulâncias superfaturadas utilizava pelo menos 33 empresas. Controlada pela família Vedoin, a máfia fraudava licitações públicas e superfaturava os preços dos contratos, obtidos por meio de convênios com a União celebrados com verbas das emendas parlamentares individuais.

O quadro com as empresas do grupo Planam e suas associadas, obtido com exclusividade pelo Estado, será um dos fios condutores da maior devassa realizada pela CGU em contratos da área de saúde em prefeituras do País, que foi iniciada ontem. A operação pente-fino desencadeada pela controladoria abrange 600 municípios brasileiros que tiveram licitações vencidas pela máfia dos sanguessugas. O objetivo é identificar o tamanho do rombo deixado nos cofres públicos, seus responsáveis e buscar judicialmente o ressarcimento do dinheiro desviado. A Polícia Federal, que desmontou o esquema em maio por meio da Operação Sanguessuga, estima que a quadrilha movimentou R$ 110 milhões desde 2001.

O mapa divide as empresas em três grupos, conforme o grau de informações já levantadas sobre sua formação societária e a forma de atuação dentro da quadrilha. "Temos mapeado todas as relações do grupo Planam, como eles atuavam criando empresas em nomes de laranjas e de familiares e de que forma usavam parcerias para fraudar as concorrências", disse o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage.

O primeiro grupo engloba as empresas com participação societária direta e confirmada dos membros da família Vedoin (Luiz Antonio e seu pai, Darci): Planam, Klass Comércio e Representação, Santa Maria Comércio e Representação e Enir Rodrigues de Jesus. As últimas três, segundo o MPF, "prestaram-se exclusivamente à finalidade de acobertar o elevado fluxo de capital da Planam". Foram constituídas em nome dos Vedoin e de laranjas, e funcionavam num mesmo endereço.

O segundo grupo é o das empresas em nome de familiares (ativas e não-ativas) usadas exclusivamente para acobertar as fraudes nas licitações, dando aspecto de legalidade aos processos. Nesse bloco, 11 empresas estão listadas. Relatório do MPF indica que a Vedovel Comércio e Representações, Vedobus Comércio e Indústria de Veículos, Vedocar Transformação de Veículos e a Via Trading Comércio de Medicamentos - que estão nesse bloco - "eram empresas de fachada que não funcionaram de fato e apenas foram criadas para participar de licitações simuladas por todo o País".

O último grupo engloba as empresas com indícios de parceria com a Planam, mas contra as quais ainda não há informações que sustentem uma acusação formal. São 19 firmas que aparecem constantemente nas licitações de que participou a Planam ou foram indicadas pelos Vedoin em seus depoimentos como parceiras nas fraudes.

Uma delas é a Torino Comercial de Veículos , que pertence a José Thomaz de Oliveira Neto, apontado como "parceiro" dos Vedoin. A firma vendeu 311 veículos para o grupo. Num dos casos já auditados pela CGU, em Salto do Céu (MT), ficou evidenciada a parceria. Numa compra de ônibus escolar por R$ 68 mil pela prefeitura foram convidadas três empresas: Santa Maria, Comercial Rodrigues e Torino Comercial de Veículos. A vencedora foi a Santa Maria (empresa em nome dos Vedoin), que acabou entregando à prefeitura um veículo adquirido da Torino, que apresentou na licitação proposta de preço superior.

Os Vedoin não foram encontrados para comentar o caso, mas têm confirmado o uso das empresas no esquema. Procuradas pela reportagem, as empresas, em sua maior parte, não foram localizadas. Muitas porque pertencem aos próprios envolvidos ou estão em nome de laranjas. O grupo Rontan informou que nunca participou de licitações públicas e só trabalha para montadoras. A Ideal Automóveis também informou que não tem relação com a Planam.