Título: Bush rejeita proposta de diálogo com Irã para estabilizar Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2006, Internacional, p. A11

Presidente diz que só negocia com Teerã, como quer comissão que analisa guerra, se país abandonar plano nuclear

O presidente americano, George W. Bush, rejeitou ontem qualquer possibilidade de os EUA iniciarem um diálogo direto com o Irã, a menos que Teerã abandone todas as atividades de seu programa nuclear. A declaração de Bush foi feita horas depois de uma reunião com o Grupo de Estudos para o Iraque - que defende negociações diretas de Washington com o Irã e a Síria, como forma de tornar viáveis as políticas americanas no Oriente Médio - e pouco antes de fechar-se, no Salão Oval da Casa Branca, com o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert.

Bush disse que um Irã com armas nucleares seria uma força 'incrivelmente desestabilizadora' na região - opinião dividida com Olmert, que reiterou que Israel não aceitará um 'Irã nuclear'. 'Se os iranianos quiserem dialogar, já lhes mostramos o caminho, e isto significa suspender de modo verificável as atividades de enriquecimento de urânio', declarou Bush. Há algumas semanas, o presidente americano também havia rejeitado negociações diretas com a Síria enquanto Damasco não pusesse fim a seu apoio ao grupo extremista Hezbollah e à ingerência na política do Líbano (ler ao lado).

A comissão que analisa a adoção de novas estratégias para a guerra no Iraque manterá mais dois dias de reuniões com membros da administração Bush e deve divulgar seu relatório final no próximo mês. O presidente, o vice-presidente Dick Cheney e o conselheiro de Segurança Nacional Stephen Hardley passaram uma hora e meia com os integrantes do grupo, que é liderado pelo ex-secretário de Estado do governo de George Bush pai James Baker III e pelo ex-congressista democrata Lee Hamilton. Outros membros do governo, como a secretária de Estado Condoleezza Rice e o secretário de Defesa demissionário Donald Rumsfeld, mantiveram reuniões separadas com a comissão.

'Nosso objetivo no Iraque continua sendo o de garantir aos iraquinaos condições de manter sua estabilidade', disse Bush após a reunião com o grupo. 'As estratégias para isso serão adotadas de acordo com as condiçoes do terreno.'

As reuniões do grupo (que passou a ser conhecido como 'comissão Baker') com membros do Executivo e Legislativo prosseguem hoje e amanhã.

De acordo com fontes da Casa Branca, muitas das sugestões da comissão já foram tentadas ou têm uma chance limitada de sucesso na visão dos especialistas do governo. Entre essas sugestões estão uma política regional centrada na diplomacia com Irã e Síria, maior ênfase no treinamento das tropas iraquianas ou a concentração de esforços para a obtenção de um acordo político entre as facções xiita e sunita.

Após a derrota sofrida há uma semana nas eleições de meio de mandato nos EUA - nas quais o Partido Republicano perdeu para os democratas o controle das duas Casas do Congresso -, Bush disse reconhecer que a estratégia para o Iraque não estava funcionando de forma 'suficientemente efetiva' nem 'suficientemente rápida' e aceitou a renúncia de Rumsfeld, num sinal de que pretende fazer mudanças na política para o Iraque.

No fim de semana, líderes democratas anteciparam que defenderão o início de uma retirada gradual dos soldados americanos do Iraque num prazo entre quatro e seis meses.

De acordo com The Washington Post, a comissão Baker está dividida entre seus membros republicanos e democratas - cuja argumentação se reforçou com o resultado das urnas - quanto à capacidade do atual governo iraquiano de conter a violência.

Segundo o jornal, enquanto Baker vem explorando com cautela os cenários para determinar quantas mudanças para sua política no Iraque poderiam ser toleradas pela Casa Branca, Hamilton enfrenta agora um desafio ainda maior para tentar convencer seus colegas democratas a endossar qualquer tipo de plano que não seja uma retirada gradual de tropas, posição de muitos congressistas do partido.

Numa entrevista, Hamilton admitiu as dificuldades. 'Precisamos rascunhar o relatório, antes de qualquer coisa', disse. 'Temos de chegar a um acordo, e isso pode não ser possível.' AP, REUTERS E AFP

O GRUPO DE ESTUDOS

O que é? Criado em 15 de março, o Grupo de Estudos para o Iraque é independente e bipartidário, liderado pelo republicano James Baker e pelo democrata Lee Hamilton. Seu relatório será apresentado em dezembro

James Baker: foi subsecretário de Comércio no governo Ford em 1975; no governo Reagan (1981-1989), foi chefe de gabinete e secretário do Tesouro. Secretário de Estado de George H. Bush, participou da formulação da política pós-Guerra Fria e das alianças para a primeira guerra do Iraque (1991)

Lee Hamilton: congressista por 34 anos, respeitado e atuante em política econômica e relações internacionais

Lawrence S. Eagleburger, secretário de Estado de George H. Bush

Vernon E. Jordan, conselheiro de Bill Clinton

Edwin Meese III, conselheiro e procurador-geral de Reagan

Sandra Day O'Connor, juíza aposentada da Suprema Corte Leon E. Panetta, chefe de Gabinete de Bill Clinton

William Perry, secretário de Defesa de Clinton

Charles S. Robb, ex-senador e ex-governador da Virgínia

Alan K. Simpson, ex-senador