Título: 'Não se pode criticar goleiro por não fazer gol'
Autor: Lu Aiko Otta, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2006, Economia & Negócios, p. B4

Para uma platéia de empresários, Henrique Meirelles critica pressões pela queda 'artificial' dos juros

Thiago Velloso

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, voltou a defender a política monetária da instituição e criticou as pressões para que a queda 'artificial' da taxa de juros.

Para uma platéia de empresários, que fizeram duras críticas aos juros, Meirelles fez uma analogia entre o governo federal e demais agentes que atuam em prol do crescimento e um time de futebol. Para ele, cada um tem sua função e deve ser cobrado por ela. 'O que não se pode é criticar o goleiro por não estar marcando gol.'

Para o presidente do BC, a discussão sobre uma queda maior na Selic é legítima, porém, é preciso ter cuidado para que interesses específicos não se sobreponham aos da nação.

Meirelles avaliou ainda que a manutenção do debate sobre uma queda mais rápida da taxa de juros, 'na raça', por si só, já influencia nas expectativas da inflação, contribuindo, assim, para a manutenção do nível elevado da Selic.

Segundo o presidente do BC, é necessário ter tranqüilidade para não comprometer a estabilidade da economia e não cair na tentação de tomar medidas que induzam o crescimento e, posteriormente, levem à instabilidade interna.

'Precisamos ter cuidado para não buscar soluções que já deram errado no passado do País', afirmou Meirelles, ressaltando que o pensamento econômico brasileiro adotou, em alguns momentos, fantasias como sendo realidade.

'Uma das fantasias é que a gente pode controlar as variáveis básicas da economia', disse, destacando, entre as variáveis os juros, que, para ele, dependem de vários fatores.

Meirelles também defendeu o regime de câmbio flutuanteno. 'É importante não nos perdemos em soluções mágicas ou fáceis, porque elas só atrapalham. Para o País, é importante que o câmbio flutue bem, que o mercado funcione bem e o governo não tome medidas artificiais ou mágicas para tentar fixar preços', disse, após a palestra. Ele participou ontem do seminário 'O empresário na gestão pública', organizado pelo Centro de Integração Empresa-Escola.

Meirelles evitou comentar, mais uma vez, a questão da sua permanência à frente do BC ou os rumores de que já teria sido confirmado no cargo. Perguntado sobre se permanece no cargo, ele limitou-se a responder: 'Como banqueiro central, uma das coisas que aprendi a fazer é tomar as decisões no momento adequado.'

Mercado já vê PIB abaixo de 3%

Sem ver sinais de retomada no ritmo de atividade, o mercado financeiro reduziu de 3% para 2,97% sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, conforme pesquisa semanal divulgada ontem pelo Banco Central (BC).

A nova projeção ficou um pouco mais distante da previsão oficial para a expansão da economia. O BC prevê alta de 3,5% do PIB em 2006. Para 2007, o mercado manteve a aposta de crescimento de 3,50%.

As projeções do mercado financeiro para o IPCA neste ano subiram pela terceira semana consecutiva e passaram de 3% para 3,05%.