Título: Clima amplia inferno pré-eleitoral de Bush
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Internacional, p. A5

Filmes retratam `assassinato¿ do presidente e perseguição neomacarthista

Não bastasse a impopularidade recorde da guerra do Iraque, o presidente americano, George W. Bush, ganhou mais uma dor de cabeça antes das eleições legislativas do dia 7: filmes de denúncia. Estrearam na sexta-feira dois documentários de crítica ao governo Bush e à guerra ao terror: A Morte de um Presidente, um pseudodocumentário sobre o hipotético assassinato de Bush, e Cale a Boca e Cante, que retrata a caça às bruxas com ecos macarthistas que as cantoras da banda Dixie Chicks sofreram após criticarem o presidente.

O filme sobre o assassinato de Bush é o que vem causando mais polêmica: várias redes de cinema decidiram não exibi-lo e a CNN e a National Public Radio se recusaram a veicular anúncios. Dirigido pelo inglês Gabriel Range, ele retrata em forma de documentário o assassinato do presidente americano em Chicago, no dia 19 de Outubro de 2007. O enredo é assustadoramente verossímil. Os EUA continuam mergulhados no atoleiro do Iraque, Bush mantém as ameaças à Coréia do Norte e ao Irã, e sua popularidade não pára de cair. Após um discurso em Chicago, Bush é atingido por dois tiros e morre no hospital. Para consternação de grande parte da audiência do filme, o vice-presidente Dick Cheney assume, decreta uma Lei Patriótica ainda mais restritivo e ameaça invadir a Síria.

Com técnica digital, o diretor ¿cola¿ a cabeça de Bush ao corpo de um ator e se vale de cenas já existentes, como o enterro do ex-presidente Ronald Reagan, para reproduzir o crime e a busca por suspeitos. O filme, segundo definiu um crítico de The New York Times, é ¿uma espécie de Law & Order (série televisiva) com um toque de Zapruder¿ - uma referência a Abraham Zapruder, cineasta amador que fez o único filme existente do assassinato do ex-presidente John F. Kennedy.

Em Washington, A Morte de um Presidente estreou numa pequena sala. O público chegou a aplaudir os trechos em que o presidente era alvo de protestos e vaiou quando Cheney assumiu a presidência.

O documentário sobre a perseguição sofrida pelas Dixie Chicks, produzido por Harvey Weinstein, ex-todo-poderoso da Miramax, também está causando controvérsia. A NBC afirmou que não poderia aceitar os comerciais do filme porque eles ¿atingem a imagem do presidente¿.

O filme acompanha o inferno vivido pela banda texana depois que a cantora Natalie Maines afirmou, num show em Londres, em 2003, que ela e suas colegas de banda tinham vergonha de Bush ser do Texas. Às vésperas da invasão do Iraque, as cantoras sofreram todo tipo de retaliação por sua ¿falta de patriotismo¿. Em meio à ebulição nacionalista que tomou conta dos EUA após o 11 de Setembro, as Dixie Chicks, uma das bandas de música country mais populares do país, foram transformadas em párias - alguns chegaram a dizer que Natalie deveria ser amarrada a uma bomba e jogada em Bagdá .