Título: Alckmin vincula atentados a eleição
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2006, Nacional, p. A9

Candidato do PSDB insinua que PCC pode ter objetivos políticos, mas não diz quem se beneficiaria com ações

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, insinuou ontem que a nova onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra policiais, ônibus e outros alvos em São Paulo pode ter objetivos políticos e eleitorais. Para ele, há intenção de influenciar as eleições de outubro. O ex-governador afirmou que não há lógica em ladrões, normalmente interessados apenas em lucro fácil, atacarem policiais.

Em julho, na onda anterior de ataques do PCC, integrantes do PSDB e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), ligaram as ações ao PT. "O PT vive no submundo e nada mais me espanta", atacou Bornhausen na época.

Um dia depois, o candidato do PSDB ao governo paulista, o ex-prefeito José Serra, cobrou a investigação de indícios da ligação do PT com o PCC. Como reação, o partido entrou com notícia-crime contra Serra, Bornhausen e o candidato a vice de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE). O caso está no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ontem, Alckmin afirmou que a polícia deveria investigar se há motivação política nos ataques, mas não disse quem poderia ser beneficiado pelas ações. Para embasar suas suspeitas, destacou que os ataques da facção ocorrem no meio da campanha. "Aliás, é uma coincidência a motivação desses ataques", comentou o ex-governador no Rio, no Aeroporto Santos Dumont, pouco depois de chegar ao Rio, onde ontem daria entrevista à Rede Globo, à noite.

"Não tem a menor lógica. Ladrão quer dinheiro e com o menor risco possível. Ladrão, se tem risco, passa longe. O que o ladrão ganha dando tiro em posto de gasolina? O que ele ganha dando tiro na polícia? O que ele ganha jogando bomba numa vidraça? O que ganha queimando ônibus? Nada", disse. "Que é estranho, é estranho. Acho que é para ser investigado, acho que precisam ser investigadas quais são as causas por trás disso. Cabe à polícia investigar."

Alckmin, que enfrentou rebeliões do PCC quando governava São Paulo, afirmou que dá "todo o apoio" à polícia paulista. "Evidente que isso é para criar pânico, gerar notícia, fazer o governo recuar da sua firmeza de prender em penitenciárias de segurança máxima os líderes do crime organizado, que são as máfias que no mundo inteiro existem", argumentou. Ele voltou a assegurar que, se for eleito presidente, não se omitirá e vai liberar recursos federais.

O candidato acusou o governo Lula de não cumprir as promessas de ajuda feitas em ataques anteriores do PCC. "Foi prometido (um total de) R$ 100 milhões. Nós já estamos no dia 7 de agosto. Não foi liberado um centavo. Nem convênios foram assinados. O governo federal pode ajudar, sim. Tem 1.500 presos federais no sistema penitenciário do Estado. Retira os presos, já prestou uma boa ajuda."

Ele disse ainda que o governo federal "levou quatro anos para fazer um presídio", referindo-se à unidade de Catanduvas, no Paraná, que tem apenas um preso, o traficante Fernandinho Beira-Mar. "Quatro anos para fazer um presídio e conseguiu guardar um preso... O Brasil tem 371.800 presos. Resolveram o problema de um preso."

MÁSCARA

No Rio, o vice-prefeito Otávio Leite (PSDB) o recebeu, acompanhado de um cabo eleitoral usando uma máscara com o rosto do ex-governador. O ambiente foi de discrição: após a entrevista, Alckmin foi para o Hotel Everest, em Ipanema, descansar um pouco antes de seguir para a sede da Rede Globo, no Jardim Botânico. Não havia movimentação de militantes na porta do hotel.