Título: Brasília é o segundo maior ponto de conexão regional
Autor: Bruno Tavares e Valéria França
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Metrópole, p. C3

Com 350 vôos diários, perde apenas para Congonhas em vôos domésticos

Os atrasos e as retenções dos vôos que partem do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, impactam aeroportos de outras regiões por ele ser o segundo hub (ponto de conexões) do País em vôos domésticos. Em busca de eficiência e rentabilidade, as companhias aéreas concentram as conexões em Brasília e São Paulo (Congonhas).

Quase 20% dos cerca de 5.200 vôos diários - nacionais e internacionais - contabilizados pela Infraero fazem escala nesses dois aeroportos, quando não começam ou acabam neles. Um atraso em qualquer dessas duas cidades - seja por falha mecânica numa aeronave, condições meteorológicas desfavoráveis ou problemas com o controle de tráfego aéreo - afeta vôos no País inteiro.

Desde 1978, quando houve a desregulamentação do transporte aéreo nos Estados Unidos (o governo americano abriu mão do controle sobre a aviação comercial), as companhias criaram o sistema de hubs. O conceito foi adotado por aeroportos de todo o mundo.

¿Para ser rentável, um avião deve voar pelo menos 10 horas por dia. Quando um deles fica retido no aeroporto, diversas viagens, em diferentes regiões do País, são prejudicadas¿, diz Ronaldo Jenkins, do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). Para que passageiros não tenham de esperar horas nos aeroportos para chegarem a seus destinos, as conexões são programadas com horários muito próximos.

Assim, até vôos de curta distância e sem escalas - de São Paulo a Belo Horizonte, por exemplo - são afetados, por dependerem dos passageiros vindos de outras regiões do País. ¿As companhias áreas só abrem mão de esperar as conexões quando o número de passageiros afetados é pequeno. Nesse caso, elas são obrigadas a pagar hospedagem e têm prejuízo¿, explica o diretor-executivo da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), Adalberto Febeliano.

EFEITO CASCATA

O atraso dos vôos não são causados só pela operação padrão em Brasília. Os aeroportos com grande movimento, caso de Congonhas e Guarulhos, trabalham com horários muito justos de pousos e decolagens. Se determinado avião parte com atraso de um aeroporto, ao chegar em outro pode não conseguir permissão para aterrissar por falta de espaço na pista e no pátio.

¿As aeronaves que estão dentro do horário previsto no plano de vôo têm prioridade no pouso e na decolagem¿, diz o engenheiro Jorge Eduardo Leal Medeiros, professor de Transporte Aéreo e Aeroportos da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP). Quando isso acontece, as autoridades aeronáuticas adotam duas medidas. Caso o avião ainda esteja no pátio, ele fica retido até que haja uma brecha na escala de decolagens. Se a aeronave estava voando, o piloto é orientado a fazer sobrevôos próximo ao aeroporto, até que a torre de controle autorize o pouso.