Título: Projeto estatizante consegue a 1ª vitória
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Economia, p. B4

Para analistas, nacionalização fortalece visão econômica de Evo

A Bolívia fechou ontem o primeiro grande capítulo do projeto econômico estatista com o qual o presidente Evo Morales pretende tirar o país de sua histórica pobreza, ao conseguir a adesão das petroleiras estrangeiras ao seu projeto de nacionalização. A opinião é de analistas do setor.

Contra vários prognósticos, o país se consolida como o principal fornecedor de gás natural do Cone Sul ao assinar no prazo estabelecido novos contratos de operação com oito petroleiras estrangeiras que haviam explorado por vários anos suas enormes riquezas energéticas.

Após seis meses de intensas negociações, empresas como a gigante brasileira Petrobrás e a espanhola Repsol-YPF - que detêm a maior fatia do negócio - passam a ser meras operadoras, sob o comando da estatal petroleira boliviana YPFB.

¿Alguns especialistas e porta-vozes das multinacionais disseram que a nacionalização causaria a morte civil do país, uma espécie de reclusão no leprosário da história. Porém, longe disso, a Bolívia está mostrando uma nova direção¿, afirmou o analista político Roger Cortes.

¿Isso dá um fundamento muito sólido à gestão de Evo Morales no âmbito econômico e no campo político, porque significa uM fortalecimento de uma administração que desafiou todas as versões agourentas e negativas que estavam prevendo que este passo seria impossível¿, disse o analista.

¿A Bolívia está se acostumando a estabelecer tendências, consolidando a perspectiva de pelo menos duplicar a médio prazo o valor de suas exportações de gás¿, observou o analista Humberto Vacaflor.

A Bolívia tomou medidas semelhantes em duas ocasiões anteriores, em 1937 e em 1969, ambas durante regimes militares. A primeira nacionalização ocorreu no governo do tenente-coronel Germán Busch, após a guerra da Bolívia contra o Paraguai entre 1932 e 1935, conhecida como a ¿guerra do petróleo¿.

O regime de Busch confiscou naquele momento as concessões petroleiras da companhia americana Standard Oil. A segunda nacionalização ocorreu durante a administração do general Alfredo Ovando Candia, que expropriou as concessões da também americana Gulf Company.