Título: BC quer dar mais poder a clientes
Autor: Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2006, Nacional, p. B1

Meirelles confirma estudo de três medidas para aumentar a competição entre bancos e fazer o juro cair

Marina Guimarães

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, informou ontem que estuda três medidas visando à redução dos juros bancários. "Uma vai ampliar o acesso à Central de Risco, fazendo com que cubra um universo maior de clientes bancários. Isso permitirá que um número maior de clientes possa negociar crédito com bancos diferentes daqueles com quem trabalha", explicou. A central é um banco de dados no BC ao qual as instituições podem recorrer para obter informações a respeito da vida financeira dos correntistas.

A segunda medida, segundo Meirelles, vai facilitar a transferência de dinheiro da folha de pagamento de um banco para outro. "A terceira medida em estudo dará maior poder de escolha para o cliente quando for negociar a tomada de crédito consignado."

Essa terceira medida deverá permitir ao cliente levar o seu cadastro de um banco para o outros. Hoje, o banco é que é dono do cadastro do cliente.

Segundo Meirelles, essas medidas poderão diminuir os custos dos bancos e aumentar a competitividade do sistema bancário ao dar maior liberdade ao cliente para escolher o banco. O cliente poderá, por exemplo, transferir o dinheiro da folha de pagamento para o banco de sua preferência.

"São medidas que darão maior poder de negociação ao cliente, que, em última análise, beneficiam o sistema como um todo porque ficará mais competitivo, devendo propiciar uma queda nos spreads bancários", explicou Meirelles.

Em entrevista ao Estado, em Montevidéu, onde participa da 10ª reunião de presidentes dos BCs dos países do Mercosul e associados, Meirelles explicou que todas essas medidas estão em estudo e não têm prazo para serem anunciadas.

Segundo o presidente do BC, as medidas são de dois grupos distintos: um visa a aumentar o poder de barganha do cliente e o outro, a reforçar a segurança do crédito. "Esse é o direcionamento que pode indicar o aumento da competitividade", explicou.

Meirelles informou também que a instituição mantém a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 4% este ano, mesmo com a queda da produção industrial em junho, que ficou acima das expectativas.

Segundo ele, o BC previu essa queda por causa de fatores que vão da Copa do Mundo à greve na Receita Federal, que prejudicou a importação de componentes e também as exportações.Ele evitou fazer previsões sobre a taxa de câmbio após as mudanças na semana passada. Mas comentou que a medida é modernizante e reduz custos.

"Não só porque os exportadores poderão deixar 30% do valor exportado no exterior, diretamente, mas também porque os 70% que vão ingressar podem ser feitos com contrato simplificado de câmbio, com operação simultânea de compra e venda", observou. E acrescentou que as medidas têm impacto grande na estrutura de custos dos exportadores, permitindo uma eficácia substancial no fechamento de câmbio.

Sobre a questão dos gastos públicos num ano eleitoral, ele afirmou que o BC continua trabalhando com superávit primário de 4,25% do PIB este ano.