Título: 'Compulsório menor não traz riscos'
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2006, Economia, p. B4

Executivo defende queda dos depósitos obrigatórios para reduzir juro bancário. Mantega acha que há outras saídas

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, acredita que o corte do depósito compulsório é a forma mais rápida de reduzir o juro bancário. Nesta entrevista ao Estado, ele diz que isso permitiria elevar ainda mais o crédito no País.

Como o sr. avalia mais esse resultado recorde do Bradesco? É um processo que a gente vem perseguindo há algum tempo. As aquisições que fizemos desde 1997 permitiu criar processos de segmentação dentro do banco, fazer ajustes e enxugamento da rede. Hoje, esse resultado é fruto dessas providências.

A alta da inadimplência preocupa? Não sentimos o problema da inadimplência porque temos experiência em crédito massificado. Conseguimos pegar os pontos positivos de cada aquisição que fizemos e adaptamos às necessidades do Bradesco. A compra do Continental, por exemplo, nos deu mais experiência no financiamento de veículos e o do Zogbi, no crédito pessoal para pessoa física. Diria que temos uma posição privilegiada.

O ministro Guido Mantega diz que há espaço para reduzir os spreads sem mexer no compulsório, como o sr. propôs. O ministro Mantega é muito competente e tem sido importante para criar um ambiente de expectativa muito favoráveis para o crescimento econômico. Eu não acho que ele ficou incomodado com a nossa proposta de redução do compulsório por que ele é um homem democrático e tem perfil de negociador. Ele falou do cadastro positivo e da redução do fundo garantidor de crédito. São dois pontos importantes. Na questão do compulsório, temos uma preocupação legítima com o crescimento econômico e correto do ponto de vista técnico. O último aumento do compulsório foi em 2002. De lá pra cá os fundamentos da economia só melhoraram. Então, é possível reduzir o nível do compulsório sem implicar riscos para a política econômica. A criação do sistema de metas de inflação neutralizou parte dos efeitos do implemento do compulsório. A queda do compulsório realmente aumenta o crédito. Países com compulsório menor tem crédito maior. Quando você fala em compulsório, dá a idéia que os bancos recolhem só 45%, mas há outros direcionamentos, como é o caso de 25% de crédito rural (com taxa de 8,75% ao ano), 2% de microcrédito (com taxa de 2% ao mês) e 8% de compulsório remunerado. De cada R$ 100 de depósito à vista, R$ 80 é compulsório.

Estudo divulgado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) diz que Brasil talvez seja o "caso mais extremo" de altos spreads bancários. Como o sr. avalia isso? A taxa é elevada por causa de tudo que disse antes. De R$ 100, sobram R$ 20 para remunerar custos de captação, spread e tudo mais. A cunha fiscal é elevada. Por isso alertamos que o compulsório é a forma imediata de reduzir os juros.

Como o sr. avalia a economia do País? Apesar dos problemas com real valorizado, continuamos com superávit importante, o que mostra que estamos com índice de produtividade melhor. Mas o País precisa crescer mais, acima do tímido desempenho dos últimos anos.