Título: Presidente quer manter `petistas de resultados¿
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H5

Dilma, Patrus, Tarso, Furlan e Amorim são alguns dos que devem continuar no ministério; Ciro deve voltar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está inclinado a manter o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no segundo mandato, apesar dos burburinhos no mercado financeiro. Lula ficou contrariado com especulações em torno da troca do titular da Fazenda, mas, na prática, ainda não tem decisão tomada.

Nos compromissos públicos dos últimos dias, Mantega deu a entender que ficará no cargo. ¿Estamos prontos para a segunda fase, de crescimento mais vigoroso, e agora é hora de pôr o pé no acelerador¿, argumentou o ministro na quarta-feira, em uma palestra no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, quando falou com entusiasmo sobre os planos do governo para um novo mandato de Lula. ¿As chances de Mantega ficar estão hoje em 70%¿, afirmou ao Estado um importante interlocutor do presidente.

Na semana passada, surgiram rumores de que o ministro da Fazenda seria substituído pelo presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, ou pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ambos petistas e economistas. Pimentel chegou a brincar com o que chamou de ¿futricas¿: ¿Se o presidente Lula me pedisse alguma recomendação, eu recomendaria que ele mantivesse Mantega.¿

Em conversas reservadas, ministros afirmam que é possível que Lula mantenha Henrique Meirelles na presidência do Banco Central. Mas trocaria alguns diretores considerados ¿muito burocráticos¿ e ¿mais realistas que o rei¿.

A permanência de petistas de ¿resultados¿ em postos estratégicos é uma das apostas do presidente para o segundo mandato. Lula quer um ministério com programas integrados, que apontem para o crescimento econômico com distribuição de renda. Embora vá diminuir o espaço do PT na Esplanada dos Ministérios para abrigar aliados, como o PMDB, no governo de coalizão, o presidente não abre mão de algumas cadeiras. A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), por exemplo, é presença garantida na nova equipe e no mesmo cargo.

Correligionários têm sugerido ao presidente a fusão de algumas pastas para a criação de um megaministério da Infra-Estrutura, que englobaria temas como transposição do Rio São Francisco e portos e aeroportos, além das Parcerias Público-Privadas (PPPs). O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, é um dos nomes citados para ocupar a pasta, no caso de a idéia ser aceita.

É provável que o deputado federal eleito Ciro Gomes (PSB-CE) volte para a equipe. Ele foi ministro da Integração Nacional e fez parte do time da coordenação da campanha de Lula.

Aos pouquíssimos amigos com quem conversou sobre o novo ministério, ainda no primeiro turno, o presidente contou que poderia escalar Ciro para o Ministério da Saúde, que hoje está nas mãos do PMDB. Ele gostaria. Se o megaministério da infra-Estrutura for criado, o deputado cearense também é forte candidato.

COALIZÃO

As várias alas do PMDB estão marcando reuniões para depois do feriado de 2 de novembro, com o objetivo de definir quais serão as demandas do partido para o novo governo. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou que o PMDB será chamado para a agenda de coalizão institucionalmente, e não por facções. ¿O PMDB terá de se unificar¿, argumentou Tarso. ¿Na coalizão os partidos serão responsáveis por todo o ministério, de tal forma que, quando houver uma crise, ela será do partido, e não do governo¿, explicou.

Presidido pelo deputado Michel Temer (SP), da ala de oposição a Lula, o PMDB comanda atualmente três pastas: Saúde, Comunicações e Minas e Energia. Já o PT tem 15 dos 34 ministérios. Além de José Agenor Álvares da Silva (da Saúde), Hélio Costa (das Comunicações) poderá sair porque perdeu o apoio da bancada. Afilhado político do senador José Sarney (PMDB-AP), Silas Rondeau deve permanecer no posto.

Do time dos desafetos de Lula, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) apoiou o então candidato do PT, Jaques Wagner, para o governo da Bahia. Deu certo: Wagner foi eleito e Geddel aproximou-se de Lula. Tem trânsito entre as várias facções peemedebistas e pode tanto virar ministro, em pasta a ser definida, como presidente da Câmara dos Deputados.

MARTA

A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) só não será ministra se não quiser. Seu nome é cotado para Cidades. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, já avisou Lula que não ficará no segundo mandato. Para a sua vaga estão cotados tanto Tarso como o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim - que é do PMDB. Até agora, porém, a tendência é que Tarso fique onde está.

Elogiado em todos os pronunciamentos pelo presidente, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também permanecerá na equipe. Da mesma forma, Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), comandante do programa Bolsa-Família, deve continuar no posto.