Título: Petista aprofundou ortodoxia econômica
Autor: Sandra Hanh
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H6

Os três anos e três meses em que Antonio Palocci comandou a economia foram marcados por um aprofundamento da ortodoxia que já vigorava no País desde a desvalorização do real, em janeiro de 1999, logo no início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Além de manter o sistema de metas de inflação e o regime de câmbio flutuante, Palocci elevou o superávit primário - economia que o governo faz para reduzir o tamanho da dívida pública - de 3,75% para 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2005, tentou puxar a meta de novo para cima (4,5% do PIB), mas foi vencido pela área desenvolvimentista do governo Lula, liderada naquele momento pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Outra característica de sua gestão foi o amplo apoio à política monetária do Banco Central (BC), comandado por Henrique Meirelles. O então ministro avalizou, ao menos em público, todas as decisões do BC em relação à taxa de juros, que foram amplamente criticadas dentro e fora do PT. O vice-presidente José Alencar, por exemplo, acusou o BC inúmeras vezes de excesso de conservadorismo. Embora menos explícito, José Dirceu, enquanto comandava a Casa Civil, também se queixava dos juros altos.

Do ponto de vista da inflação, os números mostram que Palocci foi bem-sucedido. O IPCA, índice oficial do País, encerrou 2002 acima de 12%. Este ano, deve fechar abaixo de 3%, segundo projeções do mercado financeiro. Em compensação, a taxa de juros brasileira mantém há tempos o título de mais alta do mundo. Com isso, o crescimento econômico, à exceção de 2004, quando o Brasil avançou quase 5%, deixou a desejar. Na média dos três primeiros anos do governo Lula, ficou em 2,6%. Não à toa, o tema teve prioridade no debate eleitoral.

AGENDA PERDIDA

Outra frente em que Palocci atuou foi a das reformas microeconômicas, que tinham por objetivo dar mais eficiência à economia brasileira. O ex-ministro comprou as idéias contidas na chamada Agenda Perdida, que englobava propostas como reforma tributária, reforma da Justiça do Trabalho e melhora da gestão pública.

A agenda foi levada para dentro do governo pelas mãos do economista da Fundação Getúlio Vargas Marcos Lisboa, que era secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Hoje, tal agenda é considerada literalmente perdida. Das propostas originais, apenas a reforma da Lei de Falência foi implementada. Os outros tópicos ficaram pelo caminho.