Título: Grampo vira arma e marca das ações da PF
Autor: Bruno Winckler
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2006, Nacional, p. A11

Tática desbaratou quadrilha em RO

Por meio de escutas que duram meses, equipes articuladas em mais de um Estado e a ajuda do Ministério Público, a Polícia Federal vem realizando bem seu papel de fiscalizar e prender agentes públicos corruptos, independentemente da filiação política. As Operações Sanguessuga e Dominó, que desmontaram recentemente esquemas de desvio de verbas públicas por agentes públicos, são exemplo disso.

No caso dos Sanguessugas, cerca de 250 policiais federais participaram da operação nos Estados do Acre, Amapá, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e no Distrito Federal e 90 parlamentares, ministros e governadores, tanto ligados ao governo como da oposição, estão sendo investigados pelo escândalo.

De janeiro a novembro de 2003, no primeiro ano sob o comando do delegado Paulo Lacerda, a PF prendeu 107 funcionários públicos - incluindo policiais militares, civis e até federais. O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, no seu discurso de posse, em 2003, pediu à Polícia Federal o que se espera dela. "O trabalho da PF não deve atender aos interesses do governo nem intencionalmente prejudicar a oposição", disse na ocasião.

OUTRAS OPERAÇÕES

A Operação Gafanhoto, desencadeada em Roraima em setembro de 2003, prendeu 56 pessoas acusadas de montar, como fazem gafanhotos com folhas de verdade, "folhas" fantasmas de pagamento. Por causa dessa operação, dois ex-governadores do Estado, Neudo Campos e Flamarion Portela respondem a processos na Justiça.

Ainda em 2003, em Foz do Iguaçu, a Operação Sucuri II levou para a cadeia 22 agentes federais e três fiscais da Receita, acusados de facilitação ao contrabando. Sua antecessora, a Sucuri I, centrada no Rio, prendeu 11 policiais federais da ativa e aposentados que faziam falsificação de passaportes.

A Anaconda, iniciada em fevereiro de 2002, se assemelha à atual Sanguessuga, no que se refere aos envolvidos de alto escalão. Dela não escapou nem o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos nem sua ex-mulher, a auditora do Tesouro Norma Regina Emílio Cunha. Advogados e policiais também estão encarcerados. Além de Rocha Mattos, a Anaconda apontou para outros dois juízes: Casem Mazloum e Ali Mazloum foram denunciados pela Procuradoria da República.

Em julho deste ano, outras duas operações foram deflagradas pela PF. A Cerol desarticulou no Rio um esquema de corrupção e favorecimento de empresários, com crimes contra a administração pública e a Justiça.

A Operação Fox investiga uma organização criminosa especializada em fraudar licitações e desviar verbas públicas federais destinadas às áreas de saúde e educação. A organização, conforme apurou a PF, era composta por particulares e funcionários públicos. Até agora foram presas 35 pessoas e cumpridos 67 mandados de busca e apreensão nos Estados de Sergipe, Alagoas e Bahia.