Título: Na promessa dos candidatos, um SUS que funciona
Autor: LÍGIA FORMENTI, ANA PAULA SCINOCCA, RODRIGO PEREIR
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2006, Nacional, p. A11

Se a saúde dos brasileiros depender, a partir de 2007, do que prometem os candidatos à Presidência, uma coisa é certa: o País vai ter um Sistema Único de Saúde (SUS) mais bem aparelhado, mais rápido e diversificado e uma gestão de recursos muito mais eficiente.

É o que se deduz do que prometeram, até agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), a senadora Heloísa Helena (PSOL) e o senador Cristovam Buarque (PDT). Seja por cautela eleitoral, ou falta de tempo para definir metas e números específicos, o que há de comum nos quatro programas é a promessa de um SUS mais competente. O resto é "fortalecer", "ampliar" ou "manter" ações já conhecidas.

O programa do candidato Lula, anunciado terça-feira, por exemplo, se resume a generalidades - e um de seus raros destaques é a idéia de enriquecer o SUS com o Tele-Saúde, um serviço telefônico para que os médicos tirem suas dúvidas sobre o tratamento ideal para os pacientes. Alckmin, um pouco mais específico, promete atacar quatro pontos - melhor gestão, "para fazer mais com cada real", redução das filas e do tempo de espera, maior quantidade de remédios gratuitos e consórcios intermunicipais nas regiões metropolitanas.

O pedetista Cristovam Buarque, como era de esperar, promete melhorar o atendimento ao público a partir de prontos-socorros nas escolas - além de reformular o SUS. Heloísa Helena considera que o sistema tem de ser reestruturado para atender tanto as "doenças da pobreza" quanto as "doenças da modernidade" - para que os centros de saúde "funcionem com as clínicas básicas até os serviços de alta tecnologia".

No programa de Lula a estratégia é dar continuidade às iniciativas em andamento - como Farmácia Popular, Brasil Sorridente e o recém-anunciado Pacto de Saúde, um novo modelo de gestão entre União, Estados e municípios. "Não me conformei com o fato de a saúde não figurar entre as prioridades de um novo mandato", desabafou a professora Sônia Fleury, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Como falar em desenvolvimento sem falar em saúde? Sem ela, a verba de transferência de renda vai para compra de remédios", criticou. O candidato promete cartilhas com mais detalhes a partir da semana que vem.

OUTROS PLANOS

Na equipe do PSDB, comandada pelo ex-secretário de Saúde de Goiás Fernando Cupertino, a idéia-mãe é melhorar a gestão de modo geral, para aproveitar melhor os recursos. O atendimento, em si, foi dividido em várias metas, entre elas o combate a endemias e uma política de promoção da saúde; a adoção em todo o País do programa Dose Certa, que hoje distribui 41 remédios de graça no Estado de São Paulo; aumentar a produção dos medicamentos genéricos, e iniciativas para a saúde bucal e a assistência aos deficientes mentais, além dos dependentes de álcool e drogas.

Cupertino trabalhou com 30 especialistas na montagem do plano. Diz que, embora não tenha números, o plano não é genérico: "É programático, apresenta os problemas, define propostas e mostra como fazer."

Na visão de Heloísa, o Brasil "tem a legislação mais avançada do mundo" para a saúde e muitos quadros técnicos capacitados, "mas paga pelo abismo entre a lei e a realidade objetiva das pessoas". É por isso que ela imagina um SUS reformulado, em que centros de saúde estejam tão prontos para atender uma vítima de malária ou de câncer como um atropelado ou a vítima de uma facada. "É a população pobre que enfrenta todos esses problemas."

Como eixo das ações ela aposta no corte de juros e na obrigatoriedade dos repasses legais para a saúde, "que não vêm sendo cumpridos". Ela critica o governo Lula por desviar dinheiro do setor para o Bolsa-Família, "o que é uma desonestidade, pois se a bolsa tem a ver com saúde, saneamento e infra-estrutura também têm".