Título: Eleitor baiano mistura Lula com PFL
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2006, Nacional, p. A14

Em todas as pesquisas de intenção de voto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o candidato preferido do eleitor baiano na corrida pelo Palácio do Planalto. A Bahia também é o Estado campeão de repasses feitos pelo governo federal por meio de seus programas de transferência de renda. Apesar disso, o governador Paulo Souto (PFL) aparece destacado em primeiro lugar nas pesquisas para o governo local, com chances reais de se reeleger já no primeiro turno, derrotando o candidato de Lula no Estado, o petista Jaques Wagner.

Apesar de ter ocupado três ministérios de Lula - Trabalho, Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e Relações Institucionais -, Wagner não conseguiu ainda transferir para sua campanha a preferência do eleitor baiano pelo presidente. Além disso, enfrenta um adversário de peso.

Se vencer, Souto se elegerá governador pela terceira vez desde 1994. Na verdade, o grupo político ao qual Souto está ligado - o do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) - domina as eleições para o governo da Bahia desde 1990. É a maior hegemonia estadual que um partido detém no País, ao lado do PSDB cearense, que também está no poder desde 1990.

Na prática, porém, o grupo carlista que assumiu o governo nesse período se mantém unido politicamente, enquanto o grupo tucano cearense, liderado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB), já se dividiu.

Tasso até chegou ao poder antes, ganhando a eleição para o governo em 1986. Na época, porém, ainda era filiado ao PMDB. Além disso, o grupo enfrentou nesse período divisões políticas, como a saída de Ciro Gomes (hoje no PSB) e o afastamento do atual governador, Lúcio Alcântara, que está brigado com Tasso e tenta a reeleição. Alcântara também abandonou o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, e associou sua imagem à de Lula no horário eleitoral gratuito.

PESQUISA

O PFL baiano também teve dissidências, mas manteve unidos todos os seus governadores desse período hegemônico: ACM (governador em 1990), Paulo Souto (1994 e 2002) e César Borges (1998).

Segundo a última pesquisa Ibope, divulgada no dia 14, Souto venceria a disputa no primeiro turno, com 52%, ante os 16% de Wagner. Um resultado muito inferior à preferência que o eleitor baiano demonstra ter por Lula. A mesma pesquisa do Ibope aponta Lula como o candidato preferido de 69% dos baianos, enquanto Alckmin, apoiado por Souto, tem apenas 10%.

Para tentar reverter esse quadro, o candidato petista adotou uma estratégia mais agressiva, procurando colar sua imagem o máximo possível na de Lula e atacando mais a administração do PFL no Estado nos últimos 16 anos.

"Não é que eu queira mostrar amizade com o presidente Lula. Quero é mostrar a identidade que nós temos de programas, como nas áreas de educação e saúde", diz Wagner. "Tem muita gente que vota no Lula para presidente e não sabe que sou o candidato dele na Bahia. É essa informação que quero fazer chegar até esse eleitorado."

A estratégia significou um bombardeio da imagem de Lula no horário de rádio e televisão que Wagner e todos os candidatos a deputado de sua coligação dispõem. O programa pede abertamente que o eleitor faça o "voto casadinho". Ou seja, vote em Lula para presidente e Wagner para o governo. Pede também que vote nos deputados "do time de Wagner e Lula" e nos "que ajudam Lula a trabalhar".

O governador reage e acha que a estratégia de Wagner não terá efeito. Souto afirma que seu nome se fortaleceu na campanha por causa do alcance de seus programas. E critica o uso exagerado da imagem de Lula pelo adversário. "Do jeito que ele está aparecendo, o eleitor da Bahia vai acabar pensando que, se Lula ganhar a eleição, assumirá o governo da Bahia. Aqui, parece que a disputa pelo governo é entre Paulo Souto e Lula", ironiza.