Título: UE adverte Irã: 'O prazo é curto'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2006, Internacional, p. A18

A União Européia (UE) advertiu ontem que Irã tem um "prazo curto" para suspender o enriquecimento de urânio e esclarecer sua posição na questão nuclear.

Os chanceleres do bloco, reunidos na cidade finlandesa de Lappeenranta, deram ontem um mandato ao chefe da Política Externa da UE, o espanhol Javier Solana, para dialogar, buscando convencer o Irã a cumprir a resolução de julho do Conselho de Segurança da ONU - que tinha dado prazo até o último dia 31 para o país interromper o enriquecimento de urânio.

Segundo a agência Reuters, a União Européia definiu um prazo de duas semanas para Solana obter esclarecimentos do Irã e esse seria o tempo limite para o diálogo.

Oficialmente, porém, tanto Solana como o ministro de Assuntos Europeus da Grã-Bretanha, Geoff Hoon, disseram que não foi imposto um prazo para os iranianos cumprirem a exigência de parar de enriquecer urânio. "Mas também ficou claro que o tempo está acabando, que o Irã teve muitas oportunidades e muito tempo para responder a uma solicitação perfeitamente razoável da comunidade internacional. Temos de avançar", resumiu Hoon.

O fato é que na agenda da UE está previsto novo encontro de chanceleres no dia 15, quando Solana deverá apresentar um relatório dos contatos com o Irã. A UE atua como intermediária nas negociações com o Irã e tem defendido a continuidade do diálogo. Em contraste, os EUA pressionam por sanções pesadas ou progressivas, adotadas no âmbito do Conselho de Segurança ou por países aliados.

Ontem o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, manteve conversações em Teerã com o chanceler Manouchehr Mottaki e outras autoridades sobre o programa nuclear iraniano. Também abordou o recente conflito no Líbano entre Israel e o grupo xiita Hezbollah, apoiado pelo Irã.

Enquanto isso, em Tiro, no Líbano, desembarcava um grupo de 900 soldados italianos, o primeiro contingente para a expansão da força de paz da ONU, no país, a Finul (ler ao lado). Um dos objetivos de Annan, na questão libanesa, é buscar o compromisso do Irã de que parará de suprir o Hezbollah com armas. Mottaki prometeu cooperar integralmente com a resolução do Conselho de Segurança da ONU que impôs o cessar-fogo nesse conflito, segundo um porta-voz governamental.

Annan tratou depois do programa nuclear com o negociador chefe iraniano nesse campo, Ali Larijani. "A conversa foi muito útil e construtiva", disse apenas o secretário-geral, que hoje se reunirá como presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad.

Será também Larijani quem negociará nos próximos dias com Javier Solana.

Em relação ao cessar-fogo no Líbano, o governo iraniano se comprometeu a cumprir as determinações da resolução 1.701 do Conselho de Segurança, que foi aprovada no dia 11 e pôs fim aos 34 dias de conflito entre Israel e o Hezbollah. Mas seu porta-voz não foi preciso ao resumir as decisões do encontro.

"Houve uma referência ao parágrafo 15 da resolução, o qual trata do embargo de armas. O secretário-geral de fato se referiu a esse parágrafo", declarou o assessor de Annan, Ahmad Fawzi. Quando os jornalistas lhe pediram mais dados sobre se o Irã deu garantias de que cumprirá o embargo, Fawzi apenas disse: "Não posso ir além disso".

O Irã nega que dê ajuda financeira ou forneça armas (incluindo mísseis) e munições ao Hezbollah. Na realidade, o grupo xiita libanês dispõe de mísseis e foguetes de fabricação iraniana e recebeu treinamento militar da Guarda Revolucionária do Irã.