Título: Campanhas salariais vão enfrentar baixo-astral
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2006, Economia, p. B6

O crescimento anêmico da economia vai atrapalhar os planos das categorias que têm data-base para reajuste salarial neste segundo semestre. Esse período concentra as campanhas de mais de 15 milhões de trabalhadores das categorias mais organizadas do País, como metalúrgicos, bancários, petroleiros e químicos, que agora terão mais dificuldades em conquistar aumentos reais de salários. Para conseguir acordos mais favoráveis, os sindicalistas prometem partir para a ofensiva e não descartam as greves, que até agora não têm sido a principal arma dos trabalhadores do setor privado nas campanhas salariais deste ano.

Os 770 mil metalúrgicos da Força Sindical com data-base em novembro resolveram unificar a campanha da categoria em todo o País, como forma de ganhar força nas negociações. Eles reivindicam 5% de aumento real, além da reposição da inflação acumulada em 12 meses. ¿As negociações deste ano prometem ser das mais difíceis, mas não vamos abrir mão do aumento real¿, diz o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Força, Eleno Bezerra.

Segundo o sindicalista, a categoria está mobilizada para ¿brigar¿ por um acordo melhor que o de 2005, quando conseguiu 3% de aumento real. ¿Mesmo que não estejam tendo lucratividade com a exportação, as empresas não querem perder espaço conquistado no mercado externo e uma greve atrapalharia bastante os planos delas.¿

A falta de acordo com os metalúrgicos poderá comprometer até mesmo os negócios da indústria automobilística, que já se comprometeu a dar aumento real de no mínimo 1,3% aos empregados das montadoras. ¿Se pararmos as autopeças, vamos atrapalhar também a produção de veículos.¿

As negociações vinham de vento em popa desde 2004. No primeiro semestre deste ano, 96% dos acordos garantiram reajustes iguais ou superiores à inflação, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A proporção de aumentos reais atingiu o recorde de 82% dos acordos. Mas o resultado pífio do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, que cresceu só 0,5%, foi uma ducha de água fria na expectativa dos trabalhadores.

¿As negociações eram amplamente favoráveis aos trabalhadores, porque vinham na lufada do crescimento da economia do último trimestre do ano passado. Agora, mudou a direção do vento¿, diz o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini.

Nem mesmo os bancos, que têm acumulado lucros recordes nos últimos anos, parecem dispostos a dar aumentos reais de salários. Com data-base em 1º de setembro, os 400 mil bancários do País querem aumento real de 7,05%, além da reposição da inflação, entre outras reivindicações. Após três rodadas de negociação, os bancos ainda não se pronunciaram.

¿Banqueiro nunca quer pagar o que é reivindicado, mas não vamos abrir mão de aumento real¿, diz o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino. ¿Se não recebermos uma proposta convincente, vamos partir para a greve.¿ Inicialmente, segundo ele, a paralisação poderá ser de advertência, por 24 horas. Mas, se não houver avanços nas negociações, a categoria deverá parar por tempo indeterminado.

Na quarta-feira, os petroleiros entregam à Petrobrás a reivindicação de aumento real de 7,5% nos salários. Além da correção acima dos índices de preços, a categoria quer assegurar reajuste automático sempre que a inflação atingir 2%. ¿Esperamos não ter de sinalizar greve para chegarmos a um acordo¿, diz José Maria Rangel, membro da coordenação da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

No setor químico, 33 sindicatos que representam os 75 mil trabalhadores ligados à Força Sindical no Estado de São Paulo, cuja data-base é novembro, aprovaram na semana passada pauta de reivindicações que inclui aumento real de 5%, além da reposição da inflação.

¿Se as negociações ficarem difíceis, vamos nos juntar, como já fizemos, com os químicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que também estarão em campanha, para pressionar as empresas¿, diz o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Danilo Pereira da Silva.