Título: Reeleição do presidente é notícia no mundo
Autor: Monte Reel
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H10

Os eleitores do Brasil ¿deixaram de lado uma série de escândalos de corrupção e retribuíram a Lula por ajudar os pobres e os trabalhadores¿, comentou o jornal The New York Times na noite de ontem, em seu site, assim que a reeleição do presidente foi confirmada. Assim como ele, todos os grandes jornais da Europa e dos EUA comentaram a eleição brasileira. Os textos fizeram referências, uniformemente, aos debates na TV, aos escândalos denunciados pela oposição e às realizações do presidente - principalmente ao conter a inflação e ampliar os programas assistenciais.

Sob o título ¿Lula Ganha a Reeleição¿, o diário norte-americano afirmou que o presidente brasileiro ¿teve uma ampla vitória contra seu rival Geraldo Alckmin¿. Os eleitores ¿deixaram de lado uma série de escândalos de corrupção e retribuíram a Lula por ajudar os pobres e os trabalhadores¿. O presidente ¿falou como um vencedor¿ já ao sair da cabine de votação¿ e prometeu ¿abrir um diálogo com a oposição¿. Em vários textos, um dos quais de seu correspondente Larry Rohter, o Times afirma que o presidente Lula chegou ao segundo turno ¿com uma vantagem que todas as pesquisas consideravam insuperável¿. Diz ainda que ¿a campanha teve muito pouco dos comícios tradicionais¿. Ao contrário, Lula e Alckmin ¿dirigiram seus esforços para o uso da mídia e na formação de alianças ideologicamente nada lógicas¿.

Enquanto noticiava que o PT preparava ¿uma grande festa para esta noite, em São Paulo¿, o jornal de Buenos Aires destacou que ¿mais por superstição do que por comodidade, para repetir os mesmos passos do triunfo de 2002¿, o presidente decidiu ficar em São Paulo para acompanhar as apurações. Do outro lado, disse ainda, o tucano Alckmin ficou sozinho nos momentos finais da campanha, ¿mas para sua sorte o acompanhava uma nuvem de jornalistas¿, aos quais ele falava sobre uma ¿onda da virada¿, que ele percebia ¿nas pessoas, nas ruas¿. No debate da sexta-feira, na TV Globo, ¿não houve perdedor ou ganhador. Depois de tudo, a sorte estava lançada e não seria esse show que mudaria o horizonte eleitoral.¿ El Clarín destacou, também, que o presidente reeleito ¿começará seu segundo mandato em 1.º de janeiro de 2007¿ com a força dos mais de 55 milhões de votos.

Em Paris, o diário Le Monde estampava em seu site, pouco antes do anúncio da vitória do líder petista, que ¿126 milhões de brasileiros convocados às urnas deviam dar uma ampla vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seu concorrente social-democrata Geraldo Alckmin¿. O jornal destaca também que ¿o `L¿ das mãos de Lula soam mais convincentes que o `V¿ de vitória de Alckmin¿. Na campanha, Alckmin ¿concentrou seus ataques nos escândalos de corrupção e denunciou o fraco crescimento do país¿. Lula, de seu lado, ¿baseou-se como defensor dos pobres, apoiando-se nos bons resultados da luta contra a inflação, a alta do salário mínimo e a extensão dos programas sociais¿. O jornal arrisca também uma previsão: que Lula, num segundo mandato, ¿não deverá modificar fundamentalmente sua política econômica, baseada na luta contra a inflação e na ortodoxia orçamentária¿.

O primeiro destaque do diário espanhol, assim que as eleições estavam definidas, foi para a precisão das pesquisas, ¿praticamente exatas, como antecipado pelos resultados de boca de urna¿. O jornal afirmou também que Lula ¿já começou a manter conversações com líderes da oposição¿, o que inclui contatos ¿com o PSDB de Alckmin e com o PFL¿. Outra frase do presidente para a qual El País chama a atenção é que o resultado ¿mostrará que o Brasil está unido, e não dividido como acreditam muitos¿. Restou ao seu rival Alckmin, prossegue o diário, declarar ¿que eleições não se ganham com pesquisas e quem dará a ultima palavra será o resultado oficial¿. Nem um nem outro candidato, lembra o jornal, fez referência ao clima pouco politizado da campanha, mas o fato foi trazido ao debate pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em uma de suas intervenções, o ex-presidente afirmou que `democracia não são apenas votos¿ e assim fez reviver,por alguns dias, a fogueira dos escândalos que marcaram as últimas semanas da disputa eleitoral. O jornal reproduz a pergunta feita por FHC: ¿Como pode tanta gente próxima de Lula estar implicado (em corrupção) e ele não saber nada nem explicar nada?¿

Para o influente jornal italiano, a dificuldade do eleito, fosse qual fosse, seria contar com um apoio forte do Congresso. Depois, ele destaca que ¿em caso de vitória¿, Lula terá pela frente ¿uma situação difícil¿, não só por causa dos escândalos, ¿mas também pela forte fragmentação interna do Congresso¿. O PT ¿perdeu sua imagem de guardião da ética¿, advertiu o Corriere. Em seguida, relatou a seqüência de escândalos envolvendo o presidente e seu partido, desde o mensalão, o caso dos sanguessugas e o mais recente dossiê preparado contra candidatos tucanos.

A frase do presidente, de que a vitória ¿foi um presente de Deus¿, mereceu destaque no jornal chileno El Mercurio, sob o título ¿Lula termina a campanha seguro de sua vitória¿. O presidente, prosseguiu o jornal, ¿pareceu recuperar-se bem do duro golpe que significaram os escândalos de corrupção no seu Partido dos Trabalhadores¿. Já com ares de vencedor, ele avisou no derradeiro discurso em São Bernardo do Campo: ¿Aqui nasci no sindicalismo, aqui nasci na política. Quando abracei alguns companheiros, minha cabeça voltou às greves de 1978, 79 e 80.¿ Mas, num último ataque à oposição, enfatizou que ¿o povo percebeu que poderia perder no 2.º turno se o outro projeto vencesse¿.