Título: Lula quer mostrar 'o governo que ninguém viu'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma missão ao publicitário João Santana: exibir no horário eleitoral "o governo que ninguém viu" por causa da crise política. Com essa estratégia, o programa de Lula que estréia na terça-feira será amparado por uma estrutura narrativa, enumerando os "resultados" de sua administração. Sai de cena o estilo glamouroso de Duda Mendonça e entra no ar uma propaganda mais pragmática, com depoimentos que lembram a novela Páginas da Vida. Menos PT e mais governo.

A crise que atingiu o Palácio do Planalto e destruiu a bandeira da ética carregada pelo PT em outras campanhas será abordada apenas em último caso e, mesmo assim, de forma indireta. Pesquisas qualitativas encomendadas por João Santana indicaram que os escândalos do mensalão e dos sanguessugas não colaram no presidente.

As sondagens mantidas sob sigilo revelaram que a população identifica a corrupção brasileira como um problema estrutural, sistêmico. Para grupos de eleitores ouvidos, Lula não teria conseguido superar forças poderosas. Muitos observaram, no entanto, o trabalho da Polícia Federal para desmontar quadrilhas. Não sem motivo, o presidente sempre cita a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) quando, a contragosto, fala da crise.

Se for provocado pelo adversário do PSDB, Geraldo Alckmin, Lula insistirá em que sua gestão foi a que mais investigou e puniu. Detalhe: o governo armazenou denúncias de corrupção que teriam sido "engavetadas" na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Em conversas reservadas, petistas dizem ter uma espécie de dossiê, que somente será usado se a artilharia do PSDB for muito pesada.

ÂNCORA

Com 7 minutos e 21 segundos, o programa de TV da coligação "A Força do Povo" (PT, PC do B e PRB) terá o presidente-candidato como âncora, mas também contará com apresentadores. A idéia é comparar indicadores produzidos em quase quatro anos da era Lula - como emprego, salário e saldo comercial - com os oito do governo "deles", como o presidente se refere às duas gestões de Fernando Henrique (1995 a 2002).

"Eu vou aproveitar para conversar com o povo", anunciou Lula. "A crise ocupou muito espaço, com muita fofoca, e essas coisas impediram que as pessoas tivessem a dimensão do que fizemos. É isso, agora, o que vamos mostrar."

Marqueteiro da campanha, João Santana julga ter encontrado o equilíbrio entre o tom emocional e o conteúdo político, entre o líder popular e o estadista. Para criar um clima intimista, o publicitário usará, em algumas ocasiões, o recurso da câmera fechada no rosto do presidente.

Embalado pelo baião "Lula de novo. Com a força do povo", o horário político mostrará muitas cenas de Lula nas ruas. Serão exibidas, ainda, várias "realizações" do governo: dos programas sociais, como Bolsa-Família e Luz para Todos, às obras de infra-estrutura em hidrelétricas, portos e estradas. No estilo prestação de contas, o presidente dirá que, se um mandato valeu a pena, quer mais uma chance para fazer "mais e melhor".

TUDO AZUL

Longe dos tempos em que o vermelho do PT predominava na propaganda de Lula, o tom escolhido por Santana para esta campanha é o azul. O 13 do PT aparece em verde e amarelo e o logotipo "Lula" em branco. "Mas a estética não vai substituir o conteúdo político", avisa o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. "Nosso programa terá uma linha afirmativa, de conquistas e resultados, sempre articulando com o futuro."

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), contou que Lula mostrará na TV a "globalidade" das políticas do governo. "Todas integram uma estratégia que combina o desenvolvimento econômico com o social", insistiu Berzoini, ao garantir que o PT não tem interesse numa campanha destrutiva. "Não seria uma tática inteligente", justificou. Mas, como disse o próprio Lula, ninguém levará desaforo para casa.