Título: Pinda esperou por milagre até a última hora
Autor: Ana Paula Scinocca, Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H15
A família de Geraldo Alckmin ¿ duas irmãs, sete sobrinhos e oito sobrinhos-netos ¿ acreditou num milagre até a última hora. Reunidos na casa do tucano Joaquim Benedito Pereira, que funcionava como um comitê eleitoral improvisado, os parentes do candidato do PSDB que vivem em Pindamonhangaba torceram e rezaram por uma virada, como ele também esperava. ¿Se Deus quiser, vai dar tudo certo e tenho certeza de que Deus quer¿, disse Maria Aparecida, ou Dona Mimi, uma das irmãs, às 15h15, enquanto a família comia um yakissoba com Geraldinho, um dos filhos do candidato, que viajou de São Paulo com seu irmão Tomás para votar na cidade. Meia hora depois, os dois voltaram à capital para acompanhar a apuração ao lado do pai.
¿Ainda tenho muito esperança, vai dar tudo certo¿, reforçou Maria Isabel, ou Bebé, a irmã mais velha, às 16h25, depois de apertar o número 45 na urna eletrônica. Com os movimentos limitados, por causa do mal de Parkinson, ela precisou da ajuda da filha Míriam e da neta Ana Flávia para votar. Nhá, ou Thereza Faria dos Santos, que foi babá de Geraldo Alckmin, também não desanimava. ¿Saí de casa às 6h30 para ir à missa e comungar pelo Paiau (ou Paiol), como eu havia prometido a ele¿, disse Nhá, chamando pelo apelido o candidato a presidente da República que ajudou a criar.
Professor de matemática e estatística, o anfitrião Joaquim Pereira fazia e refazia cálculos, tentando descobrir se os institutos de pesquisas não estariam equivocados. ¿Se as previsões estiverem erradas, como estavam no primeiro turno, Geraldo poderá passar de 49% e encostar no Lula¿, disse o professor. Independentemente do resultado, todos insistiam, o filho mais ilustre de Pindamonhangaba já podia se considerar um vitorioso. ¿Se o debate da TV Globo tivesse sido dez dias antes, Paiau seria eleito¿, observou o médico Luiz Carlos Morgado, cunhado e ex-secretário municipal de Saúde de Geraldo Alckmin, em Pindamonhangaba. ¿É uma pena, mas não vai dar¿, lamentou o prefeito João Ribeiro (PPS), falando baixo e longe da família Alckmin para não desanimar quem ainda apostava numa virada. O metalúrgico aposentado José Alves, um sergipano que vive há mais de 30 anos em Pindamonhangaba, tentava explicar a esperada derrota do tucano pelo perfil dos dois candidatos. ¿O povo está dividido, pois tanto Geraldo quanto Lula têm qualidades¿, disse o nordestino, sem revelar em quem votaria.
¿Às 16h45, o comerciante Romeu Pereira Magalhães Júnior, parou seu carro, com um grande cartaz de Lula no vidro traseiro, à porta da casa da mãe. Fundador do PT na cidade, ele foi um voto destoante numa família de tucanos convictos. ¿Todo mundo aqui é Alckmin, tenho até uma sobrinha casada com um sobrinho dele¿, revelou o comerciante.
O petista comemorou a vitória de Lula com entusiasmo, mas sem ofender os adversários. ¿Alguns companheiros queriam comprar um caixão para fazer o enterro simbólico do Geraldo, mas eu não concordei.¿ Ele acompanhou a apuração no bar de um militante do PT.