Título: Heloísa, 'ternura e bravura' na TV
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2006, Nacional, p. A7

Uma morena de 44 anos, magra e pequena, vai abrir, às 13 horas de terça-feira, o horário eleitoral gratuito da campanha presidencial. Com sotaque nordestino, vai adotar um discurso semelhante ao que ajudou o atual ocupante do Palácio do Planalto a se eleger, dizendo que é hora de mudar de vez a história do País. "Realizar o sonho de mais de 500 anos é possível. A hora é agora. Sou a alternativa de mudança para o Brasil", dirá Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho, a candidata do PSOL que vem surpreendendo nas pesquisas.

Heloísa não atacará ninguém no primeiro programa de TV. Vai se apresentar, dizer quem é, embora saiba que seu nome já está enraizado por todos os cantos do País. Usará o uniforme que durante quase oito anos foi sua marca no Senado: calça jeans e blusa branca, cabelos presos num rabo-de-cavalo, óculos. Buscará sincronizar o discurso com o slogan que a acompanhará por 19 programas: "Coração valente".

"Vou procurar mostrar o que toda mulher brasileira tem: ternura e bravura", diz a candidata. Ao eleitor, vai se dirigir com ternura. Ao PT, que está no governo, e aos partidos de oposição como o PSDB e o PFL, será com bravura. Nos programas, quando falar de outros candidatos, fartará os eleitores de expressões como "delinqüentes, vassalos, vendidos, moleques de recado, pilantras, bandidos e promíscuos".

A candidata do PSOL terá apenas 1 minuto e 11 segundos a cada programa eleitoral. Nesse tempo, pedirá que cada um dos que já se decidiram a votar nela conquistem mais dois votos, e que estes possam multiplicar os seus. Depois da estréia, Heloísa fará seus outros 18 programas baseada em três linhas de ação: críticas aos juros pagos ao sistema financeiro, busca da conquista de direitos sociais e ataques à corrupção.

MARQUETEIROS Os marqueteiros de Heloísa são dois cineastas militantes de esquerda: Ronaldo Duque, de 51 anos, e Luiz Arnaldo Campos, de 50. Duque é o diretor do filme Araguaya, a Conspiração do Silêncio, sobre a Guerrilha do Araguaia, lançado neste ano. Ele ganhou os prêmios Fenaj e Riocine com No, sobre o plebiscito que disse não a Pinochet, no Chile; e o prêmio Vladimir Herzog, com Contos da Resistência. Duque não é um expert em campanhas. Já Campos é do ramo. Foi do PT. Quando Heloísa e outros dissidentes foram expulsos e fundaram o PSOL, ele logo se acomodou no novo partido.

Os dois marqueteiros dizem que terão papel secundário, pois "a candidata fala por si". Estimam o custo da produção em R$ 500 mil.