Título: Líderes temem que embate pela candidatura em 2010 comece já
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H17

Derrota de Alckmin revive fenômeno de 2002: a falta de coesão interna

A derrota de Geraldo Alckmin reviveu um fenômeno no PSDB: a falta de coesão interna, que cristianizou os candidatos do partido em 2002 e em 2006. E que agora, com feições de fantasma, paira sobre o candidatura do partido em 2010. Cresce no PSDB o temor de que a falta de coesão se aprofunde com a expectativa de uma guerra fratricida entre os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, pela indicação tucana à Presidência em 2010.

Ontem, o coordenador da campanha de Alckmin, o senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que o maior problema do partido, hoje, é a coesão interna. ¿É impossível avançar sem resolver isso¿, disse ele ao Estado, depois de diagnosticar que, principalmente no primeiro turno, Alckmin padeceu com o corpo mole de muita gente e teve menos apoio do que poderia ter.

Mas este não é o único problema do PSDB. O partido sai das eleições de 2006 com outras duas grandes tarefas a cumprir como principal partido de oposição: enraizar sua presença em algumas regiões (como o Nordeste e o Rio de Janeiro) e redefinir com clareza seu ideário, em grande parte apropriado pelo seu principal adversário, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também sobraçou realizações que o PSDB implantou quando esteve no governo.

O secretário-geral do partido, deputado Eduardo Paes (RJ), admite que o primeiro passo deve ser estruturar melhor o PSDB no Nordeste e no Rio de Janeiro, onde já foi forte e agora vive à míngua. Ele explica que sua candidatura ao governo estadual, quando abocanhou um mínimo de votos, teve o objetivo de tentar popularizar o partido. Paes diz que agora, sem mandato, se dedicará em tempo integral à reconstrução do PSDB.

REVITALIZAÇÃO

O deputado eleito José Aníbal (SP) entende como inevitável que o PSDB passe por um processo de revitalização. Mas avalia que o mais importante é redefinir o seu ideário perante a sociedade. Ele afirma que questões como a estabilidade econômica e os programas sociais, criados e lançados pelo PSDB, no governo Fernando Henrique, foram apropriados pelo PT do governo Lula.

Aníbal teme que o PT se aproprie, agora, de duas outras agendas que o PSDB sempre defendeu e que foram sua plataforma na campanha de 2006, embora de uma maneira um tanto confusa - uma agenda para o crescimento e a retomada da capacidade de investimento do Estado. ¿Quem colocou o crescimento na campanha presidencial foi Alckmin¿, atesta Aníbal.

O deputado Arnaldo Madeira (SP), ex-líder do partido na Câmara, acha que o PSDB deve se preocupar mais com seu enraizamento em épocas não eleitorais. ¿O trabalho de inserção de um partido não pode se resumir às campanhas eleitorais¿, reclamou.