Título: Serra quer agora ser a referência na oposição
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H17

José Serra pretende credenciar-se como a maior liderança da oposição fazendo um governo excepcional em São Paulo, e não abrindo uma guerra política contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. Serra não fez críticas pessoais nem ataques duros a Lula na campanha do primeiro turno; por isso, chegou a ser convidado para falar com o presidente, mas recusou polidamente, avisando que estaria aberto a conversas depois de fechadas as urnas do segundo turno.

Serra quer marcar seu governo com três bandeiras: a ampliação da capacidade de investimento do Estado, a priorização de áreas de grande impacto para a sociedade (como a segurança pública e os transportes de massa) e a realização de uma gestão eficiente, sobraçando com ênfase a agenda do crescimento. Ele sabe, dizem seus aliados, que a terceira bandeira depende só dele, mas as duas primeiras passam por uma boa relação com Lula. Os aliados de Serra admitem que ele é óbvio pré-candidato a 2010, mas acham que as condições da disputa, daqui a quatro anos, ainda não estão postas.

FORA DA GUERRILHA

O governador eleito já deixou claro que não tem interesse em participar de uma guerrilha diuturna contra Lula - que não será candidato em 2010. Esses sinais foram antecipados no primeiro turno, quando Serra fez uma campanha voltada para São Paulo, evitando, em todos os momentos, criticar Lula.

No segundo turno, ele participou da campanha de Geraldo Alckmin em São Paulo com perfil mais discreto ainda. Poupado por ele, Lula o chamou para uma conversa reservada antes do primeiro turno, mas Serra alegou que, se o encontro vazasse para a imprensa, Alckmin seria prejudicado. A partir de agora, no entanto, sente-se livre para falar com Lula.

Serra pensa que as três bandeiras essenciais que pretende imprimir a seu governo consolidarão seu prestígio em São Paulo e lhe darão visibilidade nacional, projetando-o como eficiente administrador público. Embora sem hostilizar Lula, ele pretende que seu governo em São Paulo represente um pacífico contraponto, em conceitos econômicos e sociais, às políticas federais.

Ele dará atenção especial ao esforço para recuperar a capacidade de investimento do Estado. Não conta só com os recursos públicos para financiar essa recuperação da capacidade de investimento, mas planeja liderar uma revolução nas Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Fazer um governo com apelo popular - uma aflição do PSDB hoje - é outra grande preocupação do futuro governador. Serra avalia que é possível aproximar mais a gestão da população e inaugurar uma nova era tucana. Ele sabe que os investimentos em transportes de massa serão de longo prazo e, por isso, buscará resultados de curto prazo nas áreas da saúde e segurança pública.

No pacote de medidas já decididas estão incentivos fiscais para regiões e setores fragilizados economicamente e a criação de uma agência de desenvolvimento para captar recursos e financiar projetos de pequenas e médias empresas.